TEORICA-MENTE

–– Isso nele é loucura, amigos.

–– É nada.

–– É.

–– Não é...

–– Pode até não ter nada de doido,

mas seu médico atestou amnésia, enquanto ele gerava as coisas.

É, ao sexto dia de trabalho

o velhinho já demonstrava fadiga;

fora-lhe comprometido o atributo da onisciência,

posto que nos ditames do “manual de vida” ––publicado milênios depois ––

demonstra esquecimento de que engendrara uma criatura frágil,

de quem não podia exigir extremada “pureza”,

e a quem, por isso, jamais poderia propor

o fogo eterno como punição pelos “escorregões” e “quedas”.

Ele tinha ou não consciência da fragilidade

de sua “obra prima” quando concedeu o tal do livre arbítrio?

Se tinha, é irracional a ideia da pena eterna, sob qualquer hipótese.

Se não, por isso mesmo, permanece inconcebível essa ideia,

e segue-se que o médico dele tinha razão...

Ou correto seria procurarmos os verdadeiros insanos,

os que construímos um Deus louco, perverso?...

–– Calma. Não se chateiem comigo;

quem diz essa "asneira" é meu coração.

Ele não pode sair da linha um dedinho só?!

Quem sabe, um dia mude...

Ou então piore...

Antonio Leal
Enviado por Antonio Leal em 09/04/2009
Reeditado em 05/07/2009
Código do texto: T1530861
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