O que pensas a meu respeito é problema teu

Das formas possíveis de vida, Aristóteles identifica três:

1. A vida dedicada aos prazeres e ás satisfações imediatas, como nu hedonismo fundado na desmedida.

2. A vida empregada à liberdade provida pela condição cidadã e que torna cada humano capaz de responder pela vida pessoal e coletiva.

3. A vida empenhada na pesquisa filosófica, que possibilita a vivência da amizade com a sabedoria.

O prazer temperado faria bem. A cidadania substituiria até mesmo os aparatos judiciários. A paixão pela sabedoria traria a felicidade autêntica, pois seria a única forma de vida que, autônoma e independente, não dependeria de nada mais além do saber para constituir-se plena e potencializadora de toda satisfação possível.

Na esteira da idéia de autenticidade aparece Heidegger, para quem só a vida autêntica faria sentido.

4. A vida dedicada à autenticidade ontológica, potencializadora e reveladora do que se é, do próprio ser.

Essa quarta forma de vida fugiria da facticidade, do fato de o humano ver-se jogado no mundo à revelia da própria vontade. Reconhecer a facticidade é passo viável ao reconhecimento de que cada um está encerrado em si mesmo, devendo assumir-se no aqui e agora do mundo, do qual é impossível fugir. Diferente disso e seguindo um caminho despessoalizado, o humano pode cair na ruína, condição que leva o humano a confundir-se com a massa na qual ninguém firma-se como ser singular que é, mas esconde-se no anonimato daqueles que não tem voz, vez, nem história a contar.

O humano que revela o próprio ser é o que toma o caminho da autenticidade. Esse ser que emerge da angústia para protagonizar e forjar o próprio destino, a própria vida. Aí não vale a teatralidade da vida social, o parecer ser, o importar-se mais com o que os outros pensam, com a opinião alheia sobre si.

Pensando bem, penso que a sabedoria para a qual Aristóteles chama a atenção inclui isso de não se importar com o que pensam a meu respeito. Aliás, a mim me basta a minha própria vida, que a quero autêntica e com o mínimo possível de razão de ser, de sentido, significado e direção.

É por isso que ando dizendo por aí: O que você pensa a meu respeito é problema seu.