Cronocaminho
“Do rio que tudo arrasta se
diz que é violento
Mas ninguém diz violentas as
margens que o comprimem”
(Bertolt Brecht)
De tanto levar pancada
Há hora em que a gente grita
Há hora em que a gente cala
De tanto ser desqualificado
Há dias em que a gente é alvo
Em outros a gente é bala
De tanto mirar o espanto
Há meses em que a razão embaça
Noutros o sentimento é que embala
De tanto nos quererem nada
Há anos em que a gente grita e cala
A gente vira alvo, a gente vira bala
De tanto nos matarem sempre
O que é alto vem à nossa mão
Não há embaraço eternamente
E o caminho explode em clarão