Gravidades Desiguais

Diga – me querido leitor,

Que sensata loucura nos faz posicionar em trincheiras, travando guerra acirrada contra um inimigo que se tem certeza que existe, mas que esta verdade não pode ser provada a milhões de soldados comuns, todos vedados e imunes por ampolas de composto químico ideológico?!

Realidade abstrata, inimigo concreto. Luta desigual em arena axiológica. O proscênio desta armação denominada sociedade, sob luzes da ribalta, é espetáculo de guerra, ogivas dissimuladas que nunca são enxergadas pelos olhos desta massa de espectadores, portadores de um câncer social, que diagnosticada a sua gravidade aparenta-se como incurável: moléstia detectada como “pensamento de rebanho”.1

Diga – me querido leitor,

Estou louco ou sou louco? Ser ou estar?! Eis a questão. Para quem enxerga em foco marginal é uma louca guerra de essência circular. Procriadora da angústia; necessária energia para o filósofo, capaz de reagir em força motriz alimentando os geradores com críticas de potencial anti-sistema, dotando de munição marginal, o tanque bélico do pensamento circular (“Agora já não basta apenas pensar, urge o tempo de ‘pensar’ juntos” – Dinastia da Coletividade – Jan/2003). Meu querido guerreiro! Deseja continuar ou desistir? Estamos lutando em campos minados. É a mais terrível etapa da batalha: - a guerra das idéias... o oponente é perspicaz, disto não resta dúvida!

Sou homem, mas estou uma bomba-relógio programada para explodir. Há de se ter toda precaução possível, pois todo cuidado ainda é mínimo. A angústia sem fronteiras temporais, traz à tona o soldado que prá tal batalha, há de uniformizar-se como louco, possuindo a certeza que seu tecido de guerra é também epitelial. A situação exige posicionamento marginal. A localização é ação de ocupação em territórios desconhecidos. Realidade dissimulada: Teatro real, e o comportamento sobre este tipo de palco pressupõem a intelectualidade com visão de alcance infravermelho. Há uma farsa verdadeira, e não o contrário.

O inimigo ultrapassa qualquer direção com sirene de alerta, disseminando o grande chavão ideológico: “pare para pensar”. Defendendo-se em teses de moral reflexiva, facilmente ruminadas pelo gado que encharca os currais sociais, à espera demente de víveres já envenenados pela engenhosa máquina administrativa do Estado, que a todo instante não pára pra pensar, portando-se como rolo compressor dominante, esmagador das idéias marginais, que dado à ousadia de seu conteúdo, são retratadas como possibilidade de ameaça, sinais de conflitos de poder, portanto: guerra premeditada.

Consegue entender isso, meu querido leitor?! Ainda deseja continuar ou desistir?

Lucidez embriagada: soldados desarmados contra máquinas desalmadas. Desarma-se o oponente desafiando-o para a guerra. Qual sensatez, se não a própria ocupação com a loucura, para fazer mergulhar em pântanos de gravidades desiguais homens além de seu tempo? Somente os mentecaptos aptos aos olhos da célebre filosofia de Roterdan2, que foi em elogiar a loucura. Há outra razão para elogiar, se não aquela que desde os primórdios séculos tem sido a mais apedrejada por sua fama infame? “Lar louco lar”. Estalajadeira sob forma de hospício. O mundo é “só para loucos, só para raros”3, mas está em domínios errados.

Carece de travar guerra em campos infinitos de batalha, visto por binóculos utópicos, sob os olhares marginais de um angustiado e enfurecido soldado louco, em busca do elo perdido, e não do duelo perdido, pois a certeza da derrota nunca provocará a autenticação de uma guerra.

Se por ventura esta sanguinária guerra de idéias, holocausto invisível da mente, atingida for, por uma rajada de poesias, (metralhadora idealista!), erguer-se-a uma nova bandeira em campos de batalhas, anunciando que a vanguarda da revolução intelectual, traz soldados que trocaram a pólvora pelo pensamento, que o “nosso fuzil” é muito mais que um encaixe de fuselagens. Somos loucos engenheiros, poetas bélicos, dotados da compreensão circular, munidos com a razão marginal, possuidores da clareza de que o limite do conhecimento faz fronteiras com o início da loucura.

As gravidades são desiguais, o armamento é ideológico. O jogo da vida tornou-se perigosa brincadeira; alguém acaba sendo eliminado: ou eles, ou nós.

Meu querido leitor, vai continuar ou desistir!?

De qual lado você está!?

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1 - Karl Jaspers: “Massas e funcionários são mais fáceis de manipular quando não pensam, mas tão somente utilizam de uma inteligência de rebanho.”

2 - Erasmo de Roterdan: Escritor da obra: “Elogio da Loucura”.

3 - Da obra “Lobo da Estepe”, de Herman Hesse.