PEDAÇO DE DISTÂNCIA

O que em papel meu rastro deixa escrito são poucas palavras; não existe onde derramá-las.

Por que descrever nessa flor tanta cor, tanto perfume e luz?

Às vezes me torno pálido como a manhã que bebeu a água de todos os mares e escondo o soneto; escondo a estrela que murchou na minha mão. Não escuto o sino dobrar suas opacas badaladas, suas notas funerais. Ele que dobre seus prolongados ecos fora dos espaços, longe dessa praia densa onde acabam ou começam todos os destinos.

Há de dobrar à toa, há de ser por nada.

Agora tudo é distante e a vida é tarde para as horas que não vemos mais ou ainda; onde se despenhou o murcho anteontem em que busquei, sem bússola, o meu fatigado encontro?

Serei agora um pedaço de distância absorta?

Meu mundo não tem atés nem entãos. E lá não é onde estive.

Sou hora que já passou e nunca teve presente.

Chaplin
Enviado por Chaplin em 29/05/2009
Reeditado em 29/05/2009
Código do texto: T1621202