Mochilas da Company
Houve uma época na minha vida em que tudo era uma mochila da
Company. Eu sonhava com aquela mochila. Me imaginava com
ela nas costas entrando no colégio. Eu a desejava tanto porque
todo mundo tinha. Ou melhor, todo mundo que era legal.
E por esse motivo é que não podia ser de outra marca. Não
tinha nada a ver com levar livros. Eu queria ser da moda,
e o COMPANY escrito na borda preta era pré-requisito.
Ninguém combinou, mas dava a impressão de que todos
partilhávamos dessa mesma idéia.
Assim, quem usasse COMPANY era supostamente "cool".
Quem não usasse, era totalmente "looser" . Sem ética nenhuma,
queria estar do melhor lado. Infernizei a minha mãe até que consegui.
Confesso que senti bem, mas durou pouco. Descobri que a
mochila não me deixava legal, mas igual. Mesmo assim,
depois vieram os tênis da Redley, as calças de neoprene
da Cantão, as blusinhas da Triton, os moletons do Hard Rock,
as cuequinhas Planet Hollywood. E as botas da Schutz, as
argolas de prata, as falsificações da Louis Vitton, a escova de
chocolate e todas as suas variações...
Comprei tudo, até que percebi que eu nunca ficava tão bonita
quanto eu queria ficar. Se eu comprasse a bolsa, ainda faltavam
o sapato, o cinto, a pulseira, o relógio. A felicidade da minha nova
aquisição era logo substituída pela ansiedade de possuir tudo que eu ainda precisava ter.
Cansei.
Não adianta eu querer parecer com alguém de revista. Elas ganham
para serem lindas, eu gasto um monte e não consigo.Claro que
continuo achando que as bolsas caras são melhores, mas não
vou pagar o preço de uma viagem por algo que serve para carregar
o celular, a carteira e as chaves. Só se tivesse muito dinheiro sobrando,o que não é o caso.
Por razões econômicas e filosóficas, desisti de querer ser igual a
todo mundo. Daqui para frente, pretendo ficar cada vez mais
parecida comigo mesma. É original e sai muito mais barato.