depoimento de uma solteira no dia dos namorados

O dia doze sempre me trousse um gosto amargo...frustração invencível que me tortura lentamente ao longo das vinte e quatro horas desse dia. Eu, sempre independente, segura, bem resolvida com meu ego, profissionalmente realizada... não tenho motivos pra passar por isso...tenho?!

Se ainda fosse uma adolescente até entenderia [as garotas sempre fantasiam uma novela onde protagonizam um relacionamento perfeito], mas acontece que já sou bem crescidinha, madura, experiente no trato com homens e seus artifícios sorrateiros de sedução. Logo eu, que nunca deixei me abater ao final dos relacionamentos, na maioria das vezes terminados por mim mesma.

Mas o dia doze de junho já começa a me afetar, incompreensivelmente, no final do mês de maio, e é impossível evitar o pensamento otimista de que talvez, quem sabe, antes dele chegar, eu possa encontrar alguém que, como nos sonhos de adolescente, fizesse do meu dia dos namorados um conto de fadas, com direito a presentes, jantares regados a vinho e palavras românticas [daquelas que jamais se ouve dos caçadores de sexo que espreitam nos bares e boates de final de semana].

Não presentear ninguém no dia dos namorados deveria ser pra mim tão normal quanto não presentear crianças no dia das crianças ou os pais [já que não tenho mais o meu], mas toda vez que passo na frente de uma vitrine fico imaginando qual daquelas roupas serviria de belo presente pro namorado que não tenho.

A tristeza consome meu humor, como incenso esfumaçando dentro de casa. Dia dos namorados é um dia pra ir à locadora e escolher filmes de ação, terror ou comédia [jamais comédias românticas], chamar outras amigas, assim como eu, encalhadas, e comprar comida deliciosa suficiente pra compensar a solidão.

Funciona como uma terapia de grupo, reunindo pessoas que padecem do mesmo problema, você tem a falsa impressão de consolo, ainda que isso jamais seja dito entre nós, o sentimento de não ser a única a lamentar nesse dia minimiza o sofrimento, e todas nos sabemos disso.

Hoje sai com o Carlos, ele é um cara legal, atencioso, gentil, seria uma ótima opção pra preencher a vaga, mas o problema é que amanhã já é o dia dos namorados e seria bom demais pra ser verdade se ele me ligasse antes do dia treze.

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Ricardo Henrique
Enviado por Ricardo Henrique em 11/06/2009
Reeditado em 12/06/2009
Código do texto: T1644167
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