Uma pergunta para Darwin

Em tempos de manifestações de profissão de fé no evolucionismo de Darwin, ainda há tempo para interrogá-lo. Segundo os darwinistas, tudo veio de uma tal “sopa primordial”, como apresenta, a seguir, Gaarder:

“— Dentro do ‘pequeno lago aquecido’, ou ‘sopa primordial’, como muitos cientistas gostam de dizer hoje em dia, formou-se em algum momento uma macromolécula extremamente complexa, que tinha a estranha capacidade de reproduzir-se a si mesma. E foi assim que começou a longa evolução, Sofia. Simplificando um pouco as coisas, podemos dizer que estamos falando do primeiro material genético, da primeira molécula de DNA, ou da primeira célula viva. Ela foi se subdividindo, se subdividindo, mas desde o começo ocorrem mutações. Muito tempo depois, esses organismos monocelulares se combinam para formar organismos pluricelulares. É assim que também começa a fotossíntese das plantas e, na seqüência, temos a formação de uma atmosfera que contém oxigênio. Esta, por sua vez, foi duplamente importante. De um lado, o oxigênio da atmosfera foi responsável pelo surgimento dos animais que precisam respirar o ar para viver. De outro, ela passou a proteger a vida da radiação cósmica nociva. Pois esta mesma radiação, que um dia foi uma ‘centelha’ importante para o surgimento da primeira célula, também é nociva para todas as formas de vida” (Jostein Gaarder, O mundo de Sofia, p. 444).

Penso. Não fosse o simplismo da compreensão e a crença simplória numa explicação tão pueril quanto essa (a da tal sopa primordial), até poderíamos acreditar. Mas, substituir uma crença por outra (colocar o evolucionismo no lugar do criacionismo) não nos faz ir muito adiante.

Essa hipótese (o darwinismo, se confrontado com os parâmetros da ciência positivista burguesa, não passa de uma hipótese, uma vez que a tese evolucionista na qual ela se apóia não pode ser levada a experimentos em laboratórios e nem pode ser replicada), essa hipótese serve apenas aos pressupostos competitivistas das sociedades capitalistas, nas quais o mercado faliu estupendamente como ente regulador da vida. O mercado nunca foi e nunca poderá ser O Legislador que os modernos tanto cultuam.

Para encurtar a discussão, não sei se Darwin suportaria uma pergunta, inocente, como aquela da criança que, não vendo a roupa invisível do rei, soube ver a nudez de que a majestade se revestia: Darwin, se tudo veio mesmo dessa sopa primordial, quem, meu caro, é o responsável pela gênese, pela origem, dessa tal sopa?

Isso não soa algo próximo à ideia da abiogênese, proposta na Antiguidade por Aristóteles, o mesmo que disse que a Terra ocupava o centro do universo, o que, longos anos mais tarde, veio a se revelar um enorme disparete?

Com a palavra, os darwinistas de plantão...

"Um bom exemplo de ideologia científica [falsa consciência da realidade até o mais ameno de uma visão de mundo] dominante é o darwinismo, certamente a mais conhecida das teorias evolutivas da vida. Nascida no seio do liberalismo econômico e na linhagem do empiricismo britânico, a teoria darwinista é hoje amplamente ensinada como um paradigma, após as adaptações advindas dos crescentes conhecimentos da genética. Uma das aplicações atuais mais notórias dela é a sociobiologia, que mais recentemente vem cumprindo o papel antes desempenhado pelo chamado darwinismo social. Os comportamentos explicados dessa forma tendem a ser considerados como provenientes basicamente de uma carga genética herdada pelos indivíduos e populações, embora se reserve algum papel ao meio ambiente, mais isto não alivia o peso da informação da base genética para essa teoria biológica, que tem se espraiado também pela economia política, antropologia e tantos outros ramos do conhecimento" (MAGALHÃES, 2003, p. 8-9).

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MAGALHÃES, G. "Prefácio". In: TOGNOLLI, C. A falácia genética: a ideologia do DNA na imprensa. São Paulo: Escrituras, 2003. Coleção Ensaios Transversais.