Culturas: uma provocação

"A Indústria Cultural impede a formação de indivíduos autônomos, independentes, capazes de julgar e de decidir conscientemente" (Cf. T. W. Adorno, Os Pensadores. Textos escolhidos, “Conceito de Iluminismo”. Nova Cultural, 1999).

Paulo Freire dizia que cultura é tudo o que o humano acrescenta ao mundo da natureza bruta. Desse modo, água e terra seriam natureza. Um pote feito pelo homem seria cultura, exatamente porque resultou de uma intencionalidade e de uma ação do homem e da mulher que incidiu sobre algo que sempre esteve aí para fazer surgir algo que só passou a existir mediante o trabalho humano.

Essa visão generalista de cultura nos faz entender que, entre nós, a cultura se divide em vários tipos, conforme a finalidade de cada qual:

1. Cultura como a erudita e assemelhada: visaria ao belo, à fruição estética, não sem uma mundividência análoga e consensuada por legitimação socialmente produzida, e que alimenta quem se acomoda em sua aura e encanto;

2. Cultura popular: expressaria um saber e uma concepção estética amplamente dominada por grupos humanos, vazando, ainda, um modo de ver o mundo e de nele se posicionar próprio de uma comunidade, que a faz para alimentar-se a si mesma;

3. Cultura de massa: expressaria um interesse econômico; em lugar da fruição estética, produziria apenas divertimento; em lugar de um saber compartilhado, uma prática individualizada de consumo, sendo este o único vínculo possível entre os seus adeptos. Daí a reprodutividade e quantidade serem seus parâmetros maiores, além da simplicidade binária de seus conteúdos, para serem absorvidos instantaneamente. Você já viu o Faustão, da Globo, anunciando um artista “X”?: Aos gritos, como é de costume, ele impõe a informação: “Já vendeu mais de X milhões de discos”.

Então! Tudo o que o humano faz e imprime ao mundo natural pode ser entendido por cultura. Mas, nesse grande “caldeirão”, podemos encontrar de tudo: a cultura que visa ao esteticamente belo (tal como a erudita); a que visa a produzir a estética de um saber sobre a vida e a existência (popular); e a que visa apenas a produzir dinheiro (a cultura de massa, essa da indústria cultural).

O impacto de cada uma delas na subjetividade da pessoa depende do quanto de informação essa pessoa detém para avaliar o que lhe chega como bem cultural. Onde impera o pauperismo epistêmico, a tendência é a de que bens culturais não tão benéficos, nem tão valiosos, mas miseráveis, tendam a perdurar.

O belo, o saber ou o dinheiro? A escolha, como se vê, depende de cada pessoa e da visão de mundo e das experiências de vida que ela detém.