O que nos ensina a poesia?

"A poesia ensina-nos a ver como se víssemos pela primeira vez" (MOISÉS, 2007, p. 23). "Serve para nos ensinar a ver" (MOISÉS, 2007, p. 69).

"O meu olhar é nítido como um girassol.

Tenho o costume de andar pelas estradas

Olhando para a direita e para a esquerda,

E de vez em quando olhando para trás...

E o que vejo a cada momento

É aquilo que nunca antes eu tinha visto,

E eu sei dar por isso muito bem...

Sei ter o pasmo essencial

Que tem uma criança, ao nascer,

Reparasse que nascera deveras...

Sinto-me nascido a cada momento

Para a eterna novidade do mundo..."

(PESSOA, 1958, p. 22).

"A poesia serve para manter o homem e o mundo em estado de permanente renovação" (MOISÉS, 2007, p. 69).

"A novidade, em si mesma, nada significa, se não houver nela uma renovaçãocom o que a precedeu. Nem, propriamente, há novidade sem que haja essa relação. Saibamos distinguir o novo do estranho; o que, conhecendo o conhecido, o transforma e varia, e o que aparece de fora, sem conhecimento de coisa nenhuma" (PESSOA, 1966, p. 391).

A poesia "Serve para atemorizar planejadores de sociedades perfeitas" (MOISÉS, 2007, p. 69).

"O filósofo não tem alternativa senão banir o poeta. A poesia (Platão o insinua) é um peso morto. Enquanto os demais cidadãos desempenham cada qual sua função 'útil', de modo disciplinado e produtivo, o poeta não tem nenhuma função, não produz nada" (MOISÉS, 2007, p. 34).

Segundo Moisés (2007, p. 51), a poesia serve para manter viva a consciência humana, viva a memória, vivo o saber de si: "O homem verdadeiro deve encarar o seu coração", disse Confúcio. Coração como memória, cor/cordis = saber de cor.

"Projetando na consciência do leitor a imagem do mundo e do homem muito mais vivas e reais do que as forjadas pelas ideologias, o poema acende o desejo de uma outra existência, mais livre e mais bela. E aproximando-se a sujeito do objeto, e o sujeito de si mesmo, o poema exerce a alta função de suprir o intervalo que isola os seres" (BOSI in (MOISÉS, 2007, p. 136).

"Poesia é o olho.

Poesia é o novo.

Poesia é poder.

Poesia é saber.

Por que não tudo

isso para que

possamos aprender?"

(Wilson Correia)

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MOISÉS, C. F. Poesia e Utopia: sobre a função social da poesia e do poeta. São Paulo: Escrituras, 2007 (Coleção Ensaios Transversais, n. 35).

PESSOA, F. Poemas de Alberto Caeiro. 3. ed. Lisboa: Ática, 1958.

PESSOA, F. Páginas íntimas e de auto-interpretação. Lisboa: Ática, 1966.