Expressão da angustia

Na sobriedade de meus passos tristes há ainda esperança(?), pensamentos que o vento leva para outro lugar enquanto o som dos saltos nos mosaicos do chão vão se repetindo ritmados. Então busco, em pensamento, o novo que se inicia e o passado que me assombrou e que me tirou o ânimo de crer mais uma vez. Há certo sadismo naqueles que enganam sem motivos, há certa ironia no destino que nos traz flores de lindas cores e aromas, mas que vem juntamente com um veneno letal, que sorvido com ânsia, na distração do agrado, nos mata...

E a escuridão da noite não escondia meu receio, minha dúvida, meu desânimo, se desejo a fuga não sou a pior das culpadas, se temo e anseio me esconder, não passa de instinto de auto-preservação...

Não me dizendo a perfeita, talvez a mais culpada daquilo que se desmancha diante dos olhos em podres lamas, entre vermes e bactérias: um cadáver daquilo que em algum momento foi belo, admito minhas culpas, mas nada é unilateral, sempre há dois lados...

“Atiramos o passado ao abismo, mas não nos inclinamos para ver se está bem morto...”, já dizia Shakespeare, e como saber se superamos ou se escondemos nos recônditos da alma, entre o viés de nosso âmago, e se não há pulsando um desejo de vingança que exala perfume pelos poros para atrair vítimas!

Quem não sabe o peso de uma decepção?, mas também, quem há de negar que não é tão simples apagar da alma algo que te marcou...

Como tatuagem, desenhada com tinta, sarada com lágrimas e observada de tempo em tempos com dor...

Se houve um erro, se há um erro nas entrelinhas que seja expresso, e claro, talvez a ilusão de nossas paranóias nos condenem a achar o que não é real... Será que é preciso se defender de algo que não se fez? Isso é tolo, irônico, é se entregar à loucura de outro, ápice da paranóia contagiosa! Poupar-me-ei de me perguntar o que fiz de errado, pois não há nada me pesando a consciência, mas há uma dor que insiste, pesando em minha alma, que não sei dar nome, e não sei exorcizar! Está com as unhas cravadas entre minhas vértebras, e raízes venenosas envolvendo por todos os lados, me sufocando, sinto que há algo de sórdido e pútrido habitando em meu ser, tem cheiro de morte, tem insônia nos olhos, tremor nas mãos, a textura áspera, a insanidade se estabelecendo em meu ser sensibilizado...

Se te mato dentro de mim, me mato, se te mato fora de mim, terei que me esconder para sempre do espelho, pois não saberei a quem pertencem aqueles olhos e aquelas mãos... Quero te fazer implorar por sua vida e me dizer, com a voz mansa de um animal indefeso, por que foi um desgraçado filho da puta comigo! Se te dei coisas preciosas de mim, se te fui o melhor que eu pude, se nunca menti dizendo que estava tudo bem, mas não pode suportar e qualquer desculpa serviu para trocar por qualquer coisa que aparecesse!

Será que posso suportar a angustia que me corrói o peito a noite, esta de quem não posso fugir ou me esconder, pois flui da fonte seca de meu ser, que me envenena de dentro pra fora, que me traga, como um buraco negro!!!

“Se eu não me matar talvez eu peça ajuda pra voltar”

T Sophie
Enviado por T Sophie em 14/07/2009
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