LIVRE PARA FAZER TUDO DE NOVO

Quero sair para dançar,usar um vestido que

rodopie e flutue em volta de mim e rir,rir muito.

Quero sentir a luz trêmula da seda enquanto

ela escorrega pelos meus braços e pelo meu corpo,

a alegria de tocar com os dedos sua maciez.

Quero dormir na minha própria cama, regalar-me

na frescura dos lençóis limpos e descansar minha cabeça

em meu travesseiro macio. E ir dormir quando quiser,

com todas as luzes apagadas e acordar quando estiver pronta.

Quero me esticar em meu sofá debaixo de uma manta

de lã azul e ouvir minha música favorita ecoar dos

alto-falantes para dentro do meu ser,regando a paisagem

da minha alma.

Quero sentar-me em uma varanda florida,cheia de pardais,

tomar café quente em minha caneca esmaltada

velhinha velhinha,ler o jornal e ouvir ao longe o cachorro

latir para as folhas que caem ou para esquilos voadores

da minha imaginação.

Quero atender o telefone e ligar para os meus amigos

e familia e conversar até termos colocado em dia

todas as palavras que guardamos um para o outro

e rir, rir muito.

Quero ouvir o apito do trem, o cascalho sendo esmgado

na porta da garagem e portas de carro batendo

quando os amigos vêm nos visitar. A briga de talheres

contra a louça e o chiadinho da velha vitrola ouvino

Beatles e o inspirador Patativa do Assaré.

Quero sentir meus pés descalços na brancura fria do

chão da minha cozinha e na maciez azul do tapete do meu quarto.

Quero ver as cores,todas elas,cores jamais vistas,

e o branco de verdade. Voar sobre as copas verdinhas

das árvores e quilômetros de estradas com fitas amarelas

e centenas de metros de luzes de Natal. E a lua gorda e branca.

Quero sentir o cheiro de bacon fritando, um filé grelhando.

Uma mesa farta, farta de afeto e de amigos. Sentir o cheirinho

bom de roupa recém-lavada, e o oceano.

Porém, mais do que tudo isso, quero ficar de pé

na porta do quarto dos meus filhos e vê-los dormindo.

Ouvi-los acordar pela manhã e vê-los voltar para casa à noite.

Tocar seu rosto e passar meus dedos por seus cabelos.

Pegar uma carona em seu caminhãozinho e madeira e comer

seus sanduíches de queijo quente.

E vê-los crescer. Crescer no amor no afeto no dicernimento.

Rir,brincar,comer,dirigir e viver. Acima de tudo,de tudo, viver.

Passar meus braços a sua volta até eles rirem e dizer:

-Já chega, mamãe!

E então ser livre para fazer tudo de novo.