Juntando as letras.

Juntando as letras.

Continuarei lendo incessantemente os versos decassílabos de Camões, e deixo pra próxima parada os hêxometros vindo da Grécia. Enquanto isso, passo sem pressa os versos decassílabos sáficos tão presente na obra de Antero de Quental. E de malas prontas vôo sobre os personagens reais de Fernando com seus eternos heterônimos. Pretendo cruzar com Bilac, aquele parnasiano amigo intimo de Raul Pompéia. Quem sabe ele ate confirme minhas especulações sobre o solitário autor do Ateneu.

Heureca captei Clarice, nos seus contos ouço os tiros, rumo a outro capitulo.

Mas agora vou tomar meu café em meio as Modinhas de Cecília. Lembrando sempre à minha razão, que as aparências enganam. Um breve pensamento de Parmênides, que ultrapassa séculos.

Diante de excepcionais escritores, entendo um pouco mais do enunciado que li no livro de contos O ovo e a galinha, da intelectual senhora que tudo indica não buscou a penas saber, mas saciar o abstrato, onde diz:

Clarice Lispector: ... Liberdade é pouco meu desejo ainda não tem nome...

Motivo

Eu canto porque o instante existe

e a minha vida está completa.

Não sou alegre nem sou triste:

sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,

não sinto gozo nem tormento.

Atravesso noites e dias

no vento.

Se desmorono ou se edifico,

se permaneço ou me desfaço,

- não sei, não sei. Não sei se fico

ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.

Tem sangue eterno a asa ritmada.

E um dia sei que estarei mudo:

- mais nada.

Cecília Meireles