O criador de valores

"Insisto, assim, em afirmar que é preciso parar de confundir os trabalhadores filosóficos e, em geral, os homens de ciência com os filósofos - aqui é preciso observar rigorosamente a regra: dar a cada um o que lhe é devido, e não dar àqueles demasiadamente e a estes, muito pouco. É possível que seja necessário, para a educação do verdadeiro filósofo, que ele tenha subido todos os degraus em que seus servos - os operários científicos da filosofia - permanecem parados - e devem permanecer parados; talvez ele mesmo deva ter sido crítico, cético, dogmático, historiador e também poeta, compilador, viajante, adivinhador de enigmas, moralista, vidente, 'espírito livre', enfim, ter sido quase tudo, para percorrer o círculo dos valores humanos e do sentimento dos valores, para poder olhar, com olhos e uma consciência dotada de múltiplas faculdades, do alto até bem distante, das profundezas até os cumes mais altos, do canto até o que está mais afastado. Mas tudo isso representa apenas as primeiras condições de sua tarefa; esta tarefa quer ainda outra coisa - ela exige que ele crie valores" (NIETZSCHE, F. Além do bem e do mal, parte VI, seção 211, 1885).