As mulheres e a filosofia

“Uma forma de expor o problema geral da filosofia com as mulheres é que ela está profunda e exaustivamente imbuída de uma orientação masculina, que se encontra disfarçada de diferentes maneiras, como seu caráter abstrato, universal e imparcial. Esta orientação contamina seus ideais, sua argumentação, seus temas, sua metodologia e seus limites. Não só do ponto de vista do feminismo se critica o estado da filosofia. Os movimentos na filosofia radical, na filosofia dos assuntos públicos, na filosofia da literatura mostram uma profunda insatisfação com a filosofia; ao mesmo tempo, há aqueles que proclamam uma crise terminal para a filosofia. Quanto a mim, vou me limitar às críticas mais pertinentes para o feminismo.

Em linhas gerais, as feministas criticaram o ideal de objetividade (por exemplo, Lloyd); a masculinidade da Razão (por exemplo Lloyd); o método antagônico (por exemplo, Moulton); a separação da epistemologia e a ética (por exemplo, Code); o viés masculino da teoria política (por exemplo, Patenam); as implicações de gênero na teoria moral (por exemplo, Gulligan); a ênfase no geral em detrimento do particular (por exemplo, Schor). Não se trata apenas de um viés em que a filosofia trata, mas que, deliberadamente, escolheu não considerar – e mesmo denegrir – o pessoal, o corpo, o anedótico. Na filosofia têm grande prestígio a metafísica, a lógica, a filosofia da ciência, a gnosiologia, a filosofia da mente, mas que atenção séria deu a filosofia a questões como a reprodução, a maternidade, o sexo? (...).

Pode-se ver que as críticas feministas à filosofia destacam três preocupações principais: falta de relevância – a nossa experiência pessoal, as questões sociais e políticas; estar engrenada numa alienante tradição de orientação masculina; a inacessibilidade, produto de sua linguagem técnica e de seu estilo” (MACCOLL, San. Opening philosophy (“Abrindo a filosofia”). Thinking: The Journal of Philosophy for Children. Upper Monteclair, Nova Jersey, v. 11, n. 3-4, 1994, p. 5-8).