Consciência política*

Wilson Correia**

“Consciência” é um termo que os dicionários definem como substantivo feminino e que se refere à faculdade racional do homem e da mulher que os garante nos atos de valoração dos próprios atos e atitudes, gestos e comportamentos, decisões e ações.

Sem autenticidade ao reconhecer a própria posição existencial assumida entre os humanos e diante do existente, aquele ato de julgar o modo de ser e estar no mundo pode não surtir os efeitos desejados. Por isso é desejável que a consciência não seja de “borracha”, muito menos de “concreto” ou como uma “pedra fria”. Toda sã consciência é sensível, envolvida e interessada no melhor.

Assim caracterizada, a consciência do homem e da mulher pode mostrar-lhes os limites entre o público e o privado, o bom e o mau, o bem e o mal, o justo e o injusto, o desejável e o reprovável. Nessa perspectiva, o bom senso contribui para que os humanos primem em suas posturas pela salvaguarda da dignidade pessoal e dos seres que se colocam no plano da existência concreta, no tempo e no espaço mundanos.

Só esse tipo de consciência pode evidenciar como plausível a decisão de descruzar os braços, visando à manifestação da opinião, a qual pode redundar em adesão a valores dignos de serem defendidos, vividos e propostos como merecedores de respeito. Aí a pessoa deveras consciente chega a agir em sintonia com o que fala, seja para mostrar a justa indignação, quando cabível, ou para executar atos em benefício do que nos é melhor no plano geral da vida, quando eles se tornam inarredáveis.

Nesse caminho a consciência se fortalece e dá condições a que homem e a mulher se entreguem à prática do cuidado consigo próprios e com o universo e tudo o que ele abriga. Sob o signo da atenção e do esmero, a redundarem não em servilismo a outrem, mas em amor-próprio, base de toda cooperação e de toda solidariedade.

Dessa maneira, não é possível a existência de uma consciência que não seja informada pela veracidade e pela busca contínua da verdade, essa sem a qual a mínima sensação de certeza e segurança é colocada em perigo. Antes, amparada na verdade, a consciência não abre mão da justiça, essa que é mãe da paz e avó da liberdade.

Liberdade é uma palavra-valor, uma força, a qual serve, entre outras coisas, para sabermos que quem pode o maior também pode o menor: por exemplo, se fomos livres para votar em alguém, temos de ter o direito de tirar a confiança do voto que demos a esse sujeito, pois tal confiança só faz sentido enquanto ele nos representa. Cessado o vínculo da representação, não há razões para que essa relação possa continuar.

Sem essa modalidade de consciência a política vira um jogo truculento, com finalidade em si mesmo, não enriquecendo a vida do homem e da mulher como eles merecem, simplesmente por ser vida humana, em cujo nome a política deve ser exercida, sempre visando a informar e a alimentar a condição cidadã.

Cidadão e cidadã não são apenas o homem e a mulher que habitam a cidade, mas aqueles que se espalham pelo mundo. É essa cidadania que pressupõe a consciência como elemento fundamental à justiça e à liberdade. Os dias atuais mostram a legitimidade da luta em prol desses valores, pilares da dignidade humana, essa sem a qual a pessoa não passa de uma coisa – exatamente aquilo no que ela não pode se reduzir, uma vez que nasceu para ser feliz.

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* Publicado no Diário da Manhã, dia 19.08.2009, p. 18.

**Wilson Correia é filósofo, psicopedagogo e doutor em Educação pela Unicamp e Adjunto em Filosofia da Educação na Universidade Federal do Tocantins. É autor de ‘TCC não é um bicho-de-sete-cabeças’. Rio de Janeiro: Ciência Moderna: 2009.