Cinderelas

Cinderelas

Já não há mais príncipes encantados. A fada do progresso, que a tudo muda, constante e vertiginosamente, num só golpe, a todos transformou em homens comuns, preocupados com o trabalho, o dinheiro, as contas a pagar, o campeonato de futebol, a cerveja gelada, a política...

Fadas, pobres fadas! Foram todas devoradas pelos monstros da realidade brutal e desgastante, competitiva e estressante, e, com elas, a possibilidade de querer o impossível, de enxergar o invisível, de abraçar o intangível!

Monstros? Quem ainda hoje, em sã consciência, acredita em sua existência? A ciência, que tudo pesa, mede, disseca, compara e explica, encarregou-se de enviá-los para a grande lata de lixo da superstição e da crendice.

Cinderelas, ah! essas ainda existem, teimosamente sobrevivem, enclausuradas nos doces castelos dos nossos sonhos, adormecidas donzelas em perigo de coma profundo!

Toda mulher, um dia, já tomou esta difícil decisão: desterrar a Cinderela para as terras da imaginação, para os confins do esquecimento, onde pacientemente aguarda a salvação, ou a ressurreição, ou simplesmente sua libertação.

Que mulher, por um minuto ao menos, já não quis ser a princesinha de plantão, usar um sapatinho de cristal, tão frágil, tão belo, daqueles que cabem certinho, no tamanho do delicado pezinho? Ou encontrar o amor verdadeiro e eterno nos grandes salões iluminados dos bailes da vida?

Quem de nós, mulheres da vida real, que trabalham, lutam e perseveram na busca da realização pessoal, nunca desejou ser tão meiga e delicada, tão gentil e sedutora, mas principalmente tão descomplicada quanto as cinderelas dos infantis contos de fada dos tempos de outrora?

StelaStela
Enviado por StelaStela em 15/08/2009
Código do texto: T1756372