O amor de Drummond

"Ainda uma vez me prosterno a teus incomparáveis pés e todo me enrodilho e estilhaço e atomizo e proclamo: Se te amo, o universo é explicável, Deus é um teorema demonstrado, e a História ganha sentido e ilustração, o mundo inteiro cabe numa caixinha de clipes. Mas se te amo, igualmente os outros amores disseminados pela superfície terrestre murcham como flores no dia seguinte à passagem do Rei, e eu sinto que minha capacidade amantética absorve o espaço reservado a todos os demais amantes do mundo para se manifestarem. Fico eu sozinho amando por todos, e é aquela fogueira, aquele convulso crepitar de labaredas cósmicas no deserto glacial global!" (Carlos Drummond de Andrade. In: Histórias de amor em cartas).