POESIA

A poesia é a irrealidade, o sublime, o inalcançado e o inalcançável.

A maior glória do poeta é jamais defrontar-se com o real.

Evite-o a todo custo e mais forte que todos os oceanos em convulsão e todos os astros em explosão.

A sina do poeta é procurar e nunca encontrar.

No momento em que a poesia se encontra com a vida real tudo se acaba, quebra-se o cristal, acaba-se a emoção e debandam as musas enfastiadas para o breu dos charcos.

O poeta é um ser angustiado, mesmo em poemas infantis.

Poeta jamais é feliz. Poetas não amam e nem são amados, a poesia, sim.

O perfume da inspiração foge ninguém sabe para onde e inebria a natureza. A inspiração é livre e libertina.

O verso é traiçoeiro, a rima é dissimulada, a estrofe é nada, a forma menos ainda.

A poesia é sarcástica, masoquista e sádica. É princesa voluntariosa, caprichosa e tirana.

Não há adjetivos que satisfaçam a poesia, tão exigente é.

Triste de quem a ela se submete. Há de se travar uma luta louca, pegar espadas, adagas, paus e pedras. E gritar e espantar o flagelo que é a poesia.

A poesia é uma sanguessuga, é o cupim da alma, o bicho que come as carnes dos cadáveres, assim como levou toda a essência de Augusto dos Anjos.

A alegria da poesia é anúncio de tristeza, de inquietude e de incompletude. A poesia é a pior das drogas, é um câncer e uma infinitude.