CARTA PARA A MÃE NATUREZA

Querida mãe, escrevo esta carta pra dizer que ando muito ocupado, e por isso não tenho te dado a atenção que mereces.

Sinto-me cada dia mais envergonhado, pois sei que fizeste de mim teu filho mais pródigo, dotado de inteligência e sentimentos, capaz de fazer coisas incríveis e mesmo assim me tornei um filho que só te dá desgostos.

Dilapidando a herança de florestas, mares e rios que me deste, desrespeitando as leis que me ensinaste, tomando com minhas construções o espaço que antes era dos meus irmãos até que eles não tivessem mais para onde ir.

Não sei o que se passa comigo, vivo uma vida tão corrida que não te admiro mais. Não admiro mais a alvorada e o entardecer como admirava antes,não me banho mais nas tuas águas, não me alimento mais dos frutos que me mandas.

A minha pressa é tanta que a minha comida se tornou cada vez mais artificial e cada dia me sinto mais doente com isso, mas como eu te disse não tenho mais tempo pra pensar nisso. Fico muito ocupado construindo prédios, carros e maquinas de todo o tipo, sem as quais não consigo mais viver.

Queria te dizer que não tens culpa pelo que sou. Me ensinaste todas as leis da natureza assim como ensinaste aos outros seres vivos, mas depois de dez mil anos de existência me tornei um adulto egoísta e cruel e não tenho passado aos meus descendentes o respeito que meus ancestrais tinham por ti.

Olho para os outros animais e não os considero mais como irmãos. Às vezes invejo a vida instintiva que eles levam. Queria poder me contentar com tão pouco pra poder ter mais tempo pra viver.

A inteligência que me deste me deixou cego, triste e alheio à vida, e agora depois de tanto destruir e poluir vejo que meus filhos e netos pouco ou nada terão da herança magnífica que tu me deste.

Espero que um dia me perdoes por ter te maltratado tanto.

Sinceramente, teu filho mais ingrato

o Homem

PEDRO MIGUEL
Enviado por PEDRO MIGUEL em 18/06/2006
Reeditado em 18/06/2006
Código do texto: T178016