Sensações

O que somos nós e quem somos, diante de tudo que sentimos e pelo qual expressamos nossos mais profundos mistérios? Somos estranhos a nós mesmos, seres desconhecidos e opostos dentro de um corpo mortal e limitado, com uma essência, imortal, co-habitando uma mesma morada, um mesmo universo, uma mesma mente. Conhecer as profundezas de nosso Ser, penetrar na escuridão que nos assombra e apavora, enfrentar os demônios que nos perseguem ininterruptamente, ora de forma sutil e quase imperceptivel aos nossos sentidos, ora

evidentes, claros, tão reais que podemos até sentir eles em nós mesmos e até como parte de nós mesmos.Este é o grande desafio do homem, se libertar da prisão que ele mesmo construiu e constroi, dia após dia, se desvencilhar de seus vícios, de suas fraquezas, do peso que não precisa mais carregar e, principalmente, da covardia e do medo, que inibem a expressão daquilo que somos capazes, de nossos potenciais oprimidos pelos nossos pensamentos.

O Ser é quem somos de fato, o Ter é o que julgamos precisar, eis aí o início de todos os conflitos, de todas as mazelas do mundo, de toda fraqueza e virtude que faz do ser humano, ora um anjo, ora um demônio, ora uma criança inocente, ora um homem perverso, ora um amigo fiel, ora um traidor repulsivo. É a roda da vida que nos permite errar e acertar e com isso evoluir, que nos oferece flores em um dia, mas espinhos em outros, para que possamos sentir o quanto a dor é real, intensa e profunda e quanto o amor é belo, puro e perfeito.

Ser o que somos de fato, parece fácil, mas entendo que não é, porque o primeiro passo é conhecer a sí mesmo e descobrir quem é, isto, sem dúvida alguma é uma grande aventura, é como navegar com uma pequena jangada em um imenso e desconhecido oceano, sem o auxilio direto de ninguém, procurando entender os inúmeros "por ques" da vida. O ato de olhar para sí mesmo é como se abrir as possibilidades que a vida nos oferece, mesmo sabendo elas serem incertas, é como se entregar, como uma folha quando cai de uma árvore e se entrega ao vento para que a leve a terras estranhas, é além de tudo, estar receptivo a tudo e todos e desfrutar cada momento, como único, como uma oportunidade de sorrir e sofrer, de sentir, de se reconhecer como um Ser Humano, mortal aqui na terra, imortal no fluxo do tempo.

Observar a beleza das coisas, reconhecer o bem onde quer que ele esteja escondido, camuflado, aprisionado, forjado, sim, forjado até mesmo nos corações mais perversos, até mesmo nos lugares mais distantes e sombrios, até mesmo nas mentes mais insanas, até mesmo nas pedras de gelo, nos mares mais frios, nas árvores secas, nas noites sombrias, nos olhares mais apavorantes e temíveis. Saber reconhecer a beleza da vida só é possïvel se olharmos para nós mesmos, quebrando as barreiras impostas e abrindo as portas para o conhecimento interior, para encontrar então o caminho, o caminho que nos traga sabedoria para pensar e agir da forma mais equilibrada possível; amar ao próximo mais que a sí mesmo, enfrentar a vida de peito aberto e não temer os desafios, aprender a perdoar sem guardar rancor, reconhecer os erros e o quanto eles prejudicam as pessoas ao nosso redor...