Pensamento Suícida

Por tempos não olhava o espelho e deparava-me com esta imagem deveras assustadora. Vejo em meu lugar, no reflexo, a dor, a solidão, o desapontamento, a tristeza, a depressão.

No espelho estou ao menos dez anos mais jovem. O que para muitos seria motivo de estonteante alegria, para mim traz somente lágrimas aos olhos cansados e sem brilho. Porque vejo nesse rosto sem expressão, o reflexo da depressão.

Como se tivesse eternamente presa em um quarto escuro, de um motel barato de beira de estrada. Sem saída. E na mesa de cabeceira as opções de morte mais suave. Estou cega com o brilho de revolver e alucinada com o gosto das pílulas.

Voltar dez anos é estar novamente no alto de um prédio jogando a responsabilidade a uma moeda para tomar a decisão. Será agora o momento de pular?!

Essa tristeza densa, abraça e envolve-me como um manto. Aquece e esfria, assim lembra que tenho algo ainda não resolvido, porque estou viva. Olho a cidade frenética embaixo dos meus pés:

- Será que mais alguém sente tudo isso? - pergunto-me - Será?!

Gostaria de gritar, mas esse manto me cala.

Por que essa sensação de querer, somente por algumas horas, talvez dias, deixar a vida suspensa, até ter coragem de voltar. Sei que há muitos que gostariam de estar em meu lugar. Talvez seja a hora de dar lhes essa chance.

Pode ser que dez ano não tenham passado, e eu somente tenha mudado de lugar. Como dizem, não importa onde você vá, os problemas vão com você. Talvez não só os problemas, mas também a depressão.

Junto com esses sentimentos que insistem em perseguir, tem a sensação eterna incompreensão. Não importa que lingua fale, nenhuma delas terá clara o suficiente a mensagem. Talvez não seja compreendida por não saber compreender.

Sei somente que estou cansada. Esse sentimento de exaustão, me faz acreditar que não tenho forçar para mais nada, nem sequer um passo, nem sequer outro respirar.