IMPERIOSO

No meio das águas aquela pedra despida pela lua

vai ou tão mais nua do que eu, mar adentro.

Não há razão que sobeje a um dia de chuva

nem préstimo que valha a razão que julguei ser minha.

Caem inabalavelmente as gotas desprezando qualquer

filosofia até agora adjacente ao meu modo de pensar,

que sempre tive em crer ser bastante perspicaz.

Molham-se estradas, confinando o pensamento

para a sem razão de minha limitada pessoa.

Assim conformo-me com a grandeza da natureza,

que e a si mesma se basta, como a um trovão ao longe.

Entrego-me à sorte diluviana e prestando atenção

nos vidros, o que vejo é só uma ilusão criada por mim.

Aqui não cabe filosofia ou teologia alguma:

chove porque chove e assim está certo e assim tem de ser.

Gradualmente a chuva vai cessando e eu sinto-me

limpo por dentro, porque nada impus nem tive propósito.

Até que da natureza, enfim, compreendi a sua

absoluta obrigação: pretérito mais do que perfeito…

Jorge Humberto

30/09/09

Jorge Humberto
Enviado por Jorge Humberto em 01/10/2009
Código do texto: T1842283
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