Versos de Janela - Parte 2: Metropolitano

(23/04/06 – 23:38)

Mais um dia acabou na cidade. E o próximo está prestes a começar.

Mas os cães não dormem. A lua não dorme.

Os trabalhadores não dormem. Os carros e as luzes não dormem.

Não dorme o meu sentimento também.

Ele fica sempre, latejando e piscando

esperando que eu tenha as palavras corretas para defini-lo

Estou sozinho nesse apartamento

É estranho perceber que num raio de 50 quilômetros ninguém nem sabe que eu existo.

Como eu queria ser uma prioridade para alguém...

“Numa cidade como essa, as pessoas se chocam nas ruas e se esbarram para criarem uma ilusão de tato, para se sentirem tocadas e completas”. É verdade...

Mas eu nem mesmo criei essas palavras

Vi num filme e repeti.

Talvez seja isso o que eu sou: uma pessoa repetida.

Alguém que repete os erros, repete as músicas, repete as idéias

Em 50 quilômetros, se eu gritar ninguém vai ouvir...

Por que choro tanto quando estou sozinho?

Por que há carros nas ruas na madrugada de domingo?

Ainda não é segunda (minhas intenções são as primeiras)

Por que existe esse tempo? E ele passa, impiedoso, como se não ligasse a mínima para as conseqüências dos seus atos. Ele anda fingindo que as críticas não o atingem e tenta ser forte.

(por que isso me é tão familiar?)

Por que minha letra sempre muda?

Por que não sei usar as palavras pra dizer coisas mais bonitas?

Por que diabos não consigo encontrar em nenhum idioma a palavra que possa concentrar o sentido de tudo isso e faze-la entender de um vez o que – ou quem – eu sou?

E mais uma vez as músicas

“cause there’s you and me...”

Otavio Cohen
Enviado por Otavio Cohen em 30/06/2006
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