detesto isso, mas vai passar.

Segunda vez que alguém me faz a mesma pergunta, e sabe-se-lá que vez que eu dou a mesma resposta loser.

Repetir coisas óbvias me irrita. Profundamente. É, tipo, sei lá, gritar coisas e nunca ser ouvida por ninguém.

Talvez porque eu grite com gestos e apenas poucas pessoas saibam a geometria da minha mente.

Minha mãe tá bem aqui perto, no sofá, de frente pra televisão, toda ligada na novela. Meu pai saiu, mas já já volta. Meu melhor amigo acabou de chegar da casa da namorada e conversa comigo por MSN sobre nosso amigo tédio. Meu namorado tá em algum lugar de Belo Horizonte, fazendo alguma coisa. Minha melhor amiga não tá online, mas me enviou um depô no Orkut, dizendo que eu sou a melhor pessoa que poderia existir. Sabe, eu queria acreditar nela. Aliás, eu queria acreditar em mim mesma, ao menos.

Escrevo esse mundo, dos pés a cabeça. Os meus estresses se sobrepõe aos meus sorrisos, meu tédio forja lágrimas, Leave out all the rest é a música que me transporta da dimensão que eu nem sei se vivo.

Todo mundo, todas as mais de seis bilhões de pessoas no mundo parecem lutar, viver, sentir, sobreviver por algo excitante.

Menos eu.

Não, eu sou sempre a parte abstrata do desenho. O trecho confuso do poema. Devo ser a garota mais legível, já que a cada 5 segundos eu protesto contra meus antigos ideais.

Agora parece tão cool, tão certo querer atingir os limites que eu nem sei se tenho.

Eu conto o que eu sinto, nos mínimos detalhes, e eles me olham com uma expressão que faz qualquer um se sentir como se fosse a única pessoa assim.

Eu mal termino de falar e alguém pensa “pois é, sabia que blá blá blá?” Não, eu não sabia. E nem queria saber.

Não, eu não esqueci que deveria ser grata pela excelente vida que levo.

Não, eu não esqueci que as crianças na Àfrica morrem por inanição enquanto eu odeio carne daquele restaurante.

Não, eu não esqueci que sou feliz por ter uma casa, uma família unida, notas boas, 2 ou 3 amigos eternamente fies, 1 namorado virtual que faz meu coração disparar, pais que me apóiam, meus sonhos de escrever livros e me tornar uma geneticista que faça a diferença.

Mas cara, foda-se. O que são fatos contra sentimentos? Eu te respondo: Fatos não são nada. N-A-D-A.

Acho que o twitter, Orkut, recantodasletras, fanfiction.net, floreioseborroes, blogs. Todos são apenas novas saídas em direção ao pequeno vazio que existe na vida de qualquer um.

O lance é que os sentimentos são tantos, que em vez de lutarem, guiam os fatos.

E todo mundo sabe, que sentimentos são impulsivos, frágeis e sem lógica.

Às vezes alguém me pergunta o motivo, a única coisa que sei dizer é: “eu sei lá, só senti”. Tipo, PUM. Assim, do nada. E de nada em nada esses sentimentos viram o meu tudo.

Tédio não seria capaz de resumir a conclusão da minha apatia.

Nesse exato momento eu não canso de lembrar daquela carta que o Kurt Cobain escreveu. É uma lembrança mórbida, que de um jeito confuso, não sintetiza o que eu sinto. Porque ele não sentia. E eu sinto. Essa é a grande diferença.

Isso não se trata de cortar os pulsos ou bancar a revoltada com a vida. Eu não sou assim.

Provavelmente depois de escrever esse texto, vou continuar a minha vida, meus sonhos, meu tédio, meus amores. Tudo igual. Não se altera.

Não existe uma linha que quando incidente modifique todo o meu destino.

Minha mãe aqui não para de falar da novela, eu fico rindo, porque ela é uma das pessoas mais naturalmente carismáticas que conheço e não sei ficar triste perto dela, mas por dentro é muito estranho, por dentro as piadas se dissolvem. Tudo o que resta é um sarcasmo incrível narrado pela consciência, sobre o quanto eu não sou o suficiente.

E eu queria que alguém me dissesse isso. Que eu sou boa o bastante.

Mas que me dissessem de verdade. Do fundo da alma. De um lugar tão fundo, que lutariam por mim a tal ponto de desistir de tudo por acreditar, que morreriam por mim, aqueles que segurariam a minha mão ainda que eu estivesse a caminho do inferno, aqueles que me puxariam para um abraço em vez de ficar toda hora tentando me culpar por ser fraca.

Detesto isso. Mas vai passar. Só preciso do Breno ou do Bernardo ou da Hellen, eles sempre me deixam felizes. Ah merda, como eu detesto ser assim.

brenda
Enviado por brenda em 12/10/2009
Código do texto: T1862818
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