Esvaecimento...

Segundo Kant há uma diferença entre conhecimento puro e conhecimento empírico (impuro). Uma vez que todo conhecimento principia na experiência, não resta dúvida, mas que se restringe somente a ela isso é suspeito de dúvida.

Para Kant o conhecimento puro é aquele totalmente independente da experiência e de todas as impressões dos sentidos e o conhecimento empírico é aquele que é dependente da experiência e das impressões dos sentidos. O primeiro denomina-se a priori; o segundo a posteriori. Obviamente que dentro de uma terminologia kantiana.

Se há diferença qual será ela? Qual será o critério fundamental a partir do qual se verificará com segurança um conhecimento a priori de um conhecimento a posteriori? Para Kant, pela existência de proposições que são pensadas por necessidade e universalidade lógica como, por exemplo, aquela que afirma que uma reta é a menor distancia entre dos pontos. Portanto, os critérios a partir dos quais é possível averiguar como segurança a existência de juízos de caráter apriorístico são a necessidade e a universalidade. Para tanto, seja para se verificar com exatidão a existência de um tipo de conhecimento que seja anterior à experiência basta, segundo Kant, eliminar tudo o que é empírico nos corpos e aquilo que não derivar da experiência não se sustentará. Mas ainda assim haverá um juízo acerca daquele objeto, então, por essa constatação há algo em nossa faculdade de conhecimento que seja anterior a experiência e, por conseguinte, a priori.

A base do apriorismo kantiano está na revolução que ele mesmo denominou copernicana na ordem do conhecimento, pois que, assim como os astros não giravam em torno do sujeito e sim o sujeito em torno dos astros na intuição, assim, em Kant, o objeto “gira” em torno do sujeito. Analogamente supõe, então, que não é o intelecto que se regula pelos objetos, mas sim, os objetos, enquanto pensados, que se regulam pelos conceitos do intelecto.

Como é sabido a vida de Kant primou pela discrição, diferentemente das vidas de Voltaire e Rousseau que sempre estiveram envolvidos por algum tipo de escândalo. Contudo, alguns episódios são conhecidos do grande publico como, por exemplo, a impressão causada pela leitura das obras de David Hume que despertou o filosofo de seu “sono dogmático”, bem como a sua admiração incontida pelo pensamento de Rousseau e a timidez ao proferir a primeira aula. Como se vê são episódios muito próprios do homem que os vive dentro dos limites do Si mesmo e que ganharam expressividade. Porém, só as adquiriu porque o filosofo alemão alcançou uma imensa notoriedade por causa da sua Critica da Razão Pura, um monumento da razão ocidental.

Kant era um homem extremamente metódico e organizado, fato observável pela construção de sua Critica e da maneira como os conteúdos estão ali expostos. Desde essa perspectiva, é possível dizer que a mentalidade influi no comportamento e o comportamento contribuiu, por sua vez, na manutenção e progressão da mentalidade filosófica kantiana.

A inversão que o filosofo operou no modo do conhecer produziu uma metafísica da subjetividade – para usar uma expressão de Lima Vaz – a qual procura incansavelmente as razões ultimas do sentido do filosofar enquanto sujeito saído da minoridade pela qual ele próprio é responsável mediante o exercício de seu pensar sem o concurso da ontologia clássica na ordem da inteligibilidade, mas apenas da gnosiologia para construir uma inteligibilidade do mundo a partir das categorias transcendentais a priori do conhecimento.

O esforço kantiano de construir uma nova metafísica pautada na sua filosofia transcendental não foi capaz de salvar o homem da terrível descoberta de que o mundo não é um lugar seguro tal qual o era na antiguidade clássica a qual estava estribada numa ontologia da inteligibilidade do todo. Então, aqueles que se atentam para esse vazio metafísico – tomando como base as noções fundamentais da cosmovisão ordenada da ontologia clássica – o qual é um abismo sem fim e sem inicio, descobrem o nada, o vazio e, portanto, passam a percorrer caminhos sem horizontes. Ao passo que a jornada avança as forças se esgotam e, então, recai sobre estes o descrédito em relação a tudo, o niilismo. Cansados de debaterem nessa insana luta passam a cultivar um sentimento de revolta, uma vez que sempre há a interrogação sobre o mundo, mas também sempre há o inexorável silencio do mundo, visto que, este, não mais pode ser “lido” como o era antes.

Dranem
Enviado por Dranem em 20/10/2009
Código do texto: T1876903