Filosofando com a solidão....

Não seria, quem, sabe, toda essa nossa vida, as páginas escritas por um autor qualquer e, sem fim, na gaveta esquecidas, presas no negro que preenche o papel?

A folha está branca em minha frente, tão vazia que assusta minha alma.

Vazias também estão as ruas, as casas, as praças. Vazias de uma essência criadora e transformadora, vazias da beleza que já não reside nesses olhos que as vêem...

Mas esse perfume, ah! esse perfume. Não consigo tirá-lo de mim, não está no corpo, está na alma, nas entranhas, bem no fundo, exalando a pureza que a muito se extinguiu. O perfume, o perfume que não deve exalar.

Há um jardim, algumas flores, poucas flores, pequeno jardim... um canteiro e um girassol, teimoso em existir, teimoso em seguir uma luz que não deixam iluminar. Esse girassol está em meu peito, essa luz em teu olhar.

Contemplo rostos, multidões, faces solitárias, felicidades imaginárias, apenas histórias que contemplo da cadeira de balanço do tempo... histórias das quais um dia fui personagem, hoje sou platéia, indiferente platéia de tantas vidas...

A folha já não está branca, mas agora assusta-me mais, são tantos rabiscos negros, prevêem eles algum mal?

Mal... o que é o mal? Não é o antônimo de bem por que este não existe... e também, nunca cri em superstição... entretanto isso não muda o negro da folha em minha mão...

Mas recordem, falei de uns olhos, apenas um par de olhos seriam incapazes de merecer palavras deste coração, estes olhos tem um dono... passos que longe vão...

Falando em olhos, lembro de amor. Amor, que linda palavra. Amor cuja missão é fazer-nos infinitamente mais felizes do que merecemos. Que na união de mãos une vidas e que nos olhos reflete o outro tão melhor...

Mas o jardim é canteiro e mesmo o girassol começa a esmorecer....

Amor também lembra de adeus... adeus, uma constante nesta minha vida que recentemente percebi na palavra ares de divindade escondida... adeus... a Deus. Adeus de tantos eus, chegada de tantos outros...

Mas as ruas continuam vazias, as histórias continuam não sendo minhas...

O perfume permanece exalando, ao longe, os olhos refletem a outrem. O ser ao qual dedico estas palavras jamais as lerá, o branco da folha vai ficando cada vez mais negro, é o processo inverso de meus cabelos.. que negros começam a branquear... o girassol teimoso permanece seguindo o olhar que lhe abandonou e o jardim... o jardim é canteiro...

Deise Caroline Nunes
Enviado por Deise Caroline Nunes em 22/10/2009
Reeditado em 30/09/2013
Código do texto: T1880947
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