Sexo nos banheiros: o que isso diz sobre nós?

Wilson Correia*

O alvoroço está armado nesses dias por conta de mais um episódio envolvendo estudantes e suas práticas de sexo em banheiros, filmadas e veiculadas na internet.

De um lado, a sociedade hedonista cultua o sexo, mas não sabe como dizer aos novatos que há momentos para tudo nessa vida; que o sexo exige maturidade biológica e maturidade emocional conjugadas porque envolve princípios de liberdade, responsabilidade e reciprocidade.

A sociedade cultua o sexo explícito veiculado em novelas e em programas (veja o reality show), em revistas, internet, jornais (que tratam personagens que se interpenetram -opa!, interpratam- nas novelas como se fossem seres humanos do cotidiano real), entre outros, que manipulam a energia sexual por saber que ela é uma das mais poderosas quando o assunto é motivar as pessoas num ou noutro sentido. Na maioria dos casos, o instrumentalismo da energia sexual (desejo) está direcionando-a em benefício de um capitalismo cego, em que a tirania do ter e o despotismo do lucro, da acumulação, do consumo e da competitividade passam a ser vistos como os únicos “valores que valem”, à revelia da ideia de que existem valores que sustentam aquelas coisas, realmente decisivas na vida, que se colocam fora da lógica do capital. Isso, claro, não sem recorrer à força política e cultural que legitima o estilo existencial correspondente aos pilares éticos de base dessa sociedade.

São as contradições da sociedade narcísica, individualista e egóica. Faz uma coisa e idealiza uma outra a ser passada para as novas gerações. Age na base do "tudo ao mesmo tempo agora", mas precisa dizer a alguns que há momentos para tudo, sem saber, ao certo, como transmitir tal mensagem às crianças, adolescentes e jovens.

Hipócritas somos nós. Divinizamos o prazer e, de boca prá fora, condenamos práticas que visam ao desfrute do prazer. Somos ‘voyers’ e temos de dizer aos novatos que há momentos para fazer e ver certas coisas. Amamos o sexo e execramos práticas sexuais, nem sempre razoavelmente justificando nossas opções reais quando esse assunto nos move num ou noutro sentido.

O que somos? Onde estamos? Em que sociedade vivemos?

Não devemos esquecer de que nossos filhos são 'nossos filhos', mas são, com igual peso, seres sociais, seres socialmente criados, educados (para o bem ou para o mal, educados).

Por que, em episódios como esses, não pensamos sobre nós, adultos, sobre o que estamos fazendo de nós mesmos e no que estamos fazendo uns com os outros no mundo?

Por que preferimos a estratégia de condenar uma segunda vez aqueles que já foram vitimados por nossa falta de bom senso?

Por que a coisa está eclodindo na escola? A família tem realmente cuidado? A escola tem realmente se ocupado com o ensinar? Ou ela está enrredada no individualismo racionalista que diz que pelo fato de a razão existir em potencial em cada indivíduo, e pelo fato de essa razão sempre visar ao bom e ao bem, cada um deve aprender, sozinho, as habilidades e as competências voltadas para o autodidatismo?

Será que temos moral para exigir dos novatos a responsabilidade social e coletiva em relações de alteridade, quando o que fazemos, o tempo todo, é afirmar que cada criança é seu próprio juiz ético-cognitivo, de quem se deve respeitar a aptidão, o desejo, a inclinação, o poder de estar no centro?

De minha parte, prefiro acreditar que, às avessas, essas crianças estão nos educando, no sentido de nos dizer: estamos seguindo o ‘script’ traçado por vocês, adultos; estamos fazendo o que vocês, adultos, fazem e que, por hipocrisia e ‘cara de verniz’, não encontram coragem e ombridade para admitir. Adultos, eles dizem, somos suas crias. Que mais poderemos ser e fazer?

Por isso, penso que esses são momentos ricos para que possamos pensar com responsabilidades sobre esses episódios, de preferência, sem moralismos vesgos e sem a costumeira mania de vitimar as vítimas pelo fato de elas serem vítimas (que pena desses adolescentes, iludidos com essa sociedade do espetáculo e tão hipócrita!!!) – vítimas de nossa maneira materialista e obtusa de ser, estar e agir.

_________

*Wilson Correia é filósofo, psicopedagogo e doutor em Educação pela Unicamp e Adjunto em Filosofia da Educação na Universidade Federal do Tocantins. É autor de ‘TCC não é um bicho-de-sete-cabeças’. Rio de Janeiro: Ciência Moderna: 2009. Endereço eletrônico: wilfc2002@yahoo.com.br