O morno de mim

Eu não me abro com ninguém, não conto os meus medos e nem percebo efetivamente os meus defeitos. Penso que meus planos são infalíveis, talvez eu tenha a sindróme de Cebolinha. Não sou clara em relação aos meus anseios e escondo os meus receios.

Eu não tenho ninguém pra recostar a cabeça e contar quem eu sou de verdade. Primeiro porque penso que ninguém quer saber, segundo porque não tenho de fato alguém.

Eu me sinto eternamente solitária e acho graça dos meus exageros.

Eu culpo tudo isso a mim mesma e não há nada que eu faça, por mais que eu queira, que possa me mudar. Aprendi que gente velha não muda. Mas eu não sou tão velha assim. Ou sou?

Vivo num não sei, mais ou menos, morno, claro-escuro.

Vivo num um dia que irá melhorar, na paciência que irá me salvar, na confiaça de um dia melhor que o outro.

Mas e eu mesma?

Tenho eu fé em mim?

Não. Meus dedos apontam os estranhos, minha língua julga os outros e eu me perdi na superficialidade do mundo. Será que posso mudar?

Eu penso nos valores que me foram ensinados, nos meus gostos refinados e nas qualidades que me restam. Eu penso que há bom em mim e que pouco importa porque todo mundo só vê o outro lado. Quem é todo mundo, eu me pergunto e o que isso importa?

Tudo? Nada? Um pouco, não sei, mais ou menos, morno, claro-escuro.

Eu sei de muita coisa que nada valhe e não entendo aquilo que preciso entender.

Quanto de mim presta, quanto posso jogar fora? Ou devo reciclar?

Eu penso em muitas coisas e sei apreciar uma boa paisagem, mas das minhas impressões do mundo, quem quer saber? Quem quer saber o que penso ou passar uma tarde só pra papear?

Quem quer ser meu amigo, meu melhor amigo, o melhor que há?

Não quero bancar a coitadinha, mas ouvi dizer que há como ser feliz.

Vou anunciar meu próprio nome no super-mercado, eu vou me ligar. Vou me mandar flores e quem sabe um cartão postal.

Eu sou um paraíso catastrófico, um labirinto reto, um musical silencioso.

Sou um refúgio de sentimentos parados sem energia. Sou um átomo gigante, o maior que já existiu.

Eu poderia ser tão mais, mas eu sou não sei, mais ou menos, morno, claro-escuro.

Laís Mussarra
Enviado por Laís Mussarra em 30/10/2009
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