Incoerencia da vida

Deixa inundar-te a maldade, o ódio, ranço, sua agressividade latente, abafada pela convivência, calada pela boa conduta. Sinta toda a repulsa que a convivência com o outro te causa, que ocupa seu espaço, invade sua privacidade. Este outro que te demanda atenção e afeto mas não te oferece em troca, ou melhor, não parece sequer achar que há troca, te vampiriza sem seduzir, sanguessuga sem escrúpulos!

Se permita enlouquecer por alguns segundos, e veja no espelho o que você realmente é, algo mais nocivo que uma fera, pois a besta mais feroz ainda só mata por fome ou defesa, você mataria pela irritação mínima que passasse de algum limite, que você sequer conhece! Veja o brilho da malicia nos seus olhos, cheio de luxuria egoísta, cheio de ambição e orgulho! Transpiras os 7 pecados com cada poro, digno de um inferno bem quente, com garfadas e grilhões. Diga-me que te achas puro! Minta para si, as piores mentiras são as que contamos para nós mesmos, pois não permite que a verdade se desnude, e pela vergonha e vê-la tão crua nos permita mudar.

O peso do mundo nas costas, a garganta seca, as mãos levemente trêmulas, insanidade da máxima consciência, sentir o mundo em sua condição de “sem sentido”, na solidão de quem vive rodeado de pessoas, o máximo do tédio e angustia, a enfadonha mesmice, a aborrecida ignorância, a condenação de ser livre...

Será que os segundos, minutos, horas que escorrem poderiam ser melhor aproveitadas? Talvez com algum exagero de sensação, de qualquer espécie, química ou física, uma fuga, um paliativo, um placebo, ou uma morte tranqüila, ou um assassinato bem frio, um momento sádico ou masoquista, perversão à queima roupa, fogo doentio na alma vazia...

Seria apenas um misto de pequenas desilusões que nos explode em total descrença e desanimo? Ou um estado mental que independe de fatores externos, apenas delírios que vem e vão, como ondas, às vezes calmas, às vezes devastadoras, o oceano é o inconsciente, e mal podemos ver o que tem na praia, somos movidos por forças que nem temos noção, fantoches, marionetes, não se sabe bem, difícil ser e conseguir classificar seu estado...

A mística crença em razão, propósito, sentido, é o que nos anima continuar caminhando, as tolices são sempre mais fáceis de sorver, são suaves, doces, pois a dura realidade da condenação à morte nos tiraria o sono se ficasse todo tempo martelando em nossas mentes, seriamos perturbados pela noção de finitude de modo a sequer fazer da vida algo útil. Por isso... Continuamos em nossas tolices, tendo esperanças, sonhos, pois a eminência da morte não é facilmente suportada....

T Sophie
Enviado por T Sophie em 15/11/2009
Reeditado em 15/11/2009
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