HOJE EU QUERIA ESCREVER NADA
Hoje eu queria escrever nada
Queria algo pra retratar a minha imensa solidão
Cercada de pessoas cada vez mais idiotas sempre preocupadas cada vez mais com o próprio umbigo
(Quem sabe eu também não esteja preocupada só comigo mesma)
dizer a todas elas o quanto eu as odeio
e o quanto eu adoraria não ter que ver suas caras nojentas,
sujas e – também – sua almas mesquinhas, parasitas
dizer-lhes o quanto seus olhares vazios me causam náuseas
e quanto ar me roubam seus pulmões sem vida
seus corações gélidos
e seus falsos sorrisos.
Estapear-lhes a face sombria
que esconde um sei lá o quê de aflições egoístas.
Dizer-lhes de suas existências medíocres
e o como nada significam pra mim.
Chorar, por cada uma delas, as dores do que realmente importa:
as dores de uma vida não vivida e que se passa como um seriado banal
- sem que lhe seja dada a devida atenção –
as dores de amores que nunca foram ditos
sentidos, sonhados...
as dores daqueles sorrisos intrínsecos...
as dores daquele parto ininterrupto
na tentativa frustrada de ver nascer sempre – e só – a sua verdade
esquecendo-se dos outros...
esquecendo-se que há tantos outros que suportam dores piores
e que, é da dor, que nasce o amor