Bullying: onde o buraco?

Wilson Correia*

A palavra ‘bullying’ não encontra termo correspondente em português. Mas ela nomeia uma série de atos e ações praticada por crianças e adolescentes em escolas e fora dela, os quais podem incluir agredir, apelidar, bater, destruir pertences pessoais, discriminar, espancar, excluir, execrar, ferir, hostilizar, humilhar, ignorar, intimidar, linchar, ofender, puxar o cabelo, xingar e até matar (estão na imprensa: o Caso da Geysi Uniban, o desmaio de uma menina por espancamento diante de uma escola em São Paulo, a morte de uma brasileira na Inglaterra em 2008 por pular de uma janela pressionada por bollying...). A crueldade dessa prática é que ela escolhe seus alvos entre os diferentes (etnia, cultura, aspecto físico, social, econômico...) daquilo que se considera o padrão de normalidade grupalmente aceito entre crianças, adolescentes e jovens.

A coisa nasce na família ou na escola? Pode ser que essas instituições tenham lá sua parte de contribuição para que isso esteja ocorrendo, mas nada supera as estruturas. No Brasil, a sociedade é estruturalmente violenta, razão pela qual agressões menores e violências explícitas passam a ser vistas como ocorrências naturais.

Segundo Chauí, “A sociedade brasileira é uma sociedade vertical, hierárquica, que distingue as pessoas em superiores e inferiores, tem uma enorme dificuldade para assimilar a noção de direitos, para trabalhar com a noção de soberania, com as idéias de liberdade, igualdade e participação. É uma sociedade que opera por exclusão, prática da violência e o poder hierarquicamente estabelecido e justificado” (CHAUÍ, M. “Marilena Chauí denuncia autoritarismo da república”, 19.11.2003. Disponível em: <http://flacso.org.br>. Acesso em: 19.11.2009.

Culpar os pais? Culpar os professores? Culpar a família? Culpar a escola? Faz isso aquele ou aquela que se contenta com a ponta do ‘iceberg’ (com a pequena parte), e não com o todo no qual estamos inseridos. Claro que cada pessoa, grupo ou instituição está envolvido no processo contínuo de construção e sustentação dessa sociedade e seria bom se agisse visando a salvaguarda da liberdade, da responsabilidade, da reciprocidade e da compaixão. Porém, culpar indivíduos ou grupos ou instituições de modo isolado pode não passar de uma maneira cômoda de evitar o debate e a ação efetiva para enfrentar a violência estrutural que nos encantoa, tal como fala Marilena Chauí.

_________

*Wilson Correia é filósofo, psicopedagogo e doutor em Educação pela Unicamp e Adjunto em Filosofia da Educação na Universidade Federal do Tocantins. É autor de ‘TCC não é um bicho-de-sete-cabeças’. Rio de Janeiro: Ciência Moderna: 2009. Endereço eletrônico: wilfc2002@yahoo.com.br