Anseios e multidões.

Dos crisântemos roxos que descoram somente a lembrança de sua bela decoração existe, como um sorriso de pedra, seus anseios, e necessidades e vontades... Esses nunca foram levados ao sol.

De uma liberdade indescritível, fria e cheia de ressentimentos, com os cabelos desarrumados e com as raízes revelando sua real identidade, esvoaçando pesadamente ao vento, espalha pelas ruas quebradas e esverdeadas, como musgo, a desgraça disfarçada de seus desamores. Porque não se permite sofrer, nem entregar-se – mesmo por pouco tempo – a seus desesperos e medos. Teme não poder reagir, sem forças como uma pequena mureta a barrar a alta maré.

Segue sem prender-se a multidão, nem á vitrine de um sonho comum. Segue sem poder continuar, e sem saber em procissão vê centenas de milhares rumarem para o mesmo destino. Sentindo-se só, todos eles.

Presa em seu mundo de angustias e dor, não tem capacidade de ver em torno de si, e enxergar em seu irmão de fé, ou desafeto, a mesma dor e a mesma angustia. Seus olhos mascarados pela dor, são tão alienados, quanto os de quem compra o sonho da vitrine. As lágrimas e a falta de ar que oprimem o peito... Não permitem que veja. Não permite que veja. Não permita que veja.

As palavras como em uma caixa vazia, batem em todos os lados de sua cabeça, ecoando, sem que possam ser absorvidas por parte alguma.

A dor que aflige a ela, e aquela multidão de centenas de milhares, não permite que se pense, só que se siga, e assim todos seguem um sonho que ninguém tem coragem de sonhar. Logo eles que sempre contestaram as injustiças. Eles que sempre propuseram mudanças. Tão extremados e alienados que os ombros ausentes de sua importância de sustentação, encontram-se caídos, jogados sobre o tórax, hoje, parecem querer esconder-se no centro do peito. E da cabeça baixa, buscando arrastar no chão o nariz, pode-se ver somente a testa. Demonstrando a vergonha que sentem de terem se perdido, seja lá do que eles acreditavam.

A "inesperança" é muito mais perigosa que a alienação.

Está segunda, é um estado do qual pode-se sair, e o qual entra-se meio que sem saber, sem notar. Meio que forçado e exigido. Agora esta primeira, é escolhida, é a dor de quem não pode mais sonhar, é a fadiga do coração que exauriu suas forças, é um ponto sem nada em volta, uma célula da qual todas as outras do organismo, se escondem e se afastam quando esta se aproxima.

Seu caminhar, suas vestes, seu cheiro, e seu olhar. A seu olhar. Demonstram todos, em uma estranha harmonia, a desorganização de seus pensamentos que a abandonaram. Nem estes quiseram aproximar-se dela, que parece irradiar forças malignas, ou Chácra ruim. Algo tão repulsivo que pode ser sentido de longe.

Seu crime? Não se sabe, mas visivelmente ela não se perdoa por ele, ou eles, ou quem se sabe até por sua ausência. Mas seu demônio é tão grande que deixa atrás de si, por onde passa, seja onde for, um rastro o qual ninguém pode seguir. Nem mesmo seus irmãos de fé ou desafeto.