eu

15:05.

O tempo passa, como uma droga ingerida pra dissecar o tédio. Entre as páginas do calendário da minha mãe e o relógio digital que ficam na tela do meu celular: ele passa.

Alguns meses são difíceis, em que a realidade nos coroa, com uma vida social que se resume a dormir e querer dormir. Cansada, eu recordo das instruções dos livros happy ending, cujas fórmulas nos fazem erguer a cabeça e pensar: “Tudo isso é uma fase, eu supero”.

Um apartamento no centro da cidade, o carro do ano, as roupas exclusivas, os caras mais gatos... Eu não preciso de uma vida assim pra me sentir melhor. Talvez eu seja A estranha, feito os caras naturebas anti-globalização. Exceto porque eu não acho que possa mudar o mundo.

Escrever é legal. Sempre me motiva, me comove, me dá forças. Mas não há nada de nobre nisso. Eu só preciso de uma cena forte o bastante pra que eu necessite registrá-la do meu jeito. E no que isso muda? Quantas vidas os meus textos salvam? Quantas árvores essas folhas levam? Me faz parecer mais sensível bancar a Srta. escritora? Me faz parecer idiota, sonhar com isso?

15:23.

Às vezes fazer a coisa certa, me dá a sensação errada, a sensação de ter perdido. Só que, sabe como é, perdas adolescentes não são levadas em conta . Pra eles é tudo simples.

Eu tento organizar na minha cabeça os meus sonhos e... É tudo muito estranho, fácil de acreditar, embora não faça muito sentido. Falar sobre o que eu quero em voz alta é pedir pra ser chamada de idiota, sonhadora e pensa-bem-pra-não-se-arrepender-depois.

Talvez porque eu tenha sido o protótipo de Barbie na minha infância, sempre usando aquela porra de rosa, fazendo balé, loira e olha-só-como-ela-ficaria-linda-de-jaleco.

Mas eu nunca gostei de mediscina. Desde o primeiro momento eu odiei. Sempre que eu precisava ir ao médico eles diziam “não vai doer”, e de alguma forma, o cheiro forte no hospital, a linda paisagem de pessoas com cara de morte e piedade, e principalmente a dor, me fizeram entender que foda-se a mediscina, eu nunca ia gostar disso.

Então, eles começaram a falar que seria ótimo ter uma futura desembargadora ou diplomata na família, uma defensora dos fracos etc. É, talvez eu tenha gostado da idéia. Mas eu nunca deixei de imaginar, que antes disso, eu já teria publicado um livro de verdade, que fizesse alguma diferença. Ah tá.

Os anos passavam, eu escrevi, mas era como se eu não escrevesse nada além de redações propostas pela professora, porque os textos pareciam disputar espaço dentro da minha sensibilidade. E todas as coisas que eu sentia e logo em seguida superava, arrancava a motivação em levar adiante. “Próximo mês eu começo a esboçar meu livro...” eu dizia a mim mesma. Algumas vezes eu acho que cheguei bem perto, digitar durante meses 100 ou 150 páginas da mesma história, mas os livros que eu lia tinham lições tão melhores e narrações tão intensas, que eu me sentia medíocre sem alcançar minha própria moral.

Aí veio a poesia, quando eu tinha 12 anos. No começo eu gravava todos os poemas e ficava recitando na hora de escrever algo, rimava amor com dor, coração com emoção, céu com mel, mas eu gostava disso.

Aos 14 eu finalmente consegui poemas longos, que me deixavam vulneráveis por dias, sem rima ou com construção métrica prevenida.

E depois vieram as fanfictions. Demorei uns 8 meses pra me sentir capaz de escrever qualquer coisa. Ficou uma droga, mas muita gente curtiu, e eu não consegui mais parar. Transformar textos em fanfictions te cobra menos, a autora já existe, então nenhum editor experiente vai destruir o sonho que possuo desde quando aprendi a ler, aos 5.

15:49.

E hoje, apesar das crises constantes, dúvidas e tals, eu descubro que isso não é sobre mim, não literalmente. Assim como eu, ele também tem um sonho, ela também tem um sonho, todos temos, certo?

Por que eu me sinto tão mal em pensar no futuro? Ei, só mais um ano e a gente se livra do ensino médio! Sem fórmulas de física, matemática... E sem ele. Talvez seja que nem Pearl Harbor, whatever se ele disse que vai voltar pra me buscar, ridículamente isso me toca, mas a distância é traiçoeira, igual ao tempo. As lembranças que não vão acontecer, o que poderíamos ter sido, são possibilidades assustadoras. Porque ele tem um sonho, porque ele vai lutar por isso, e eu não.

Eu vou continuar aqui, nessa vidinha pós adolescência, pensando em como seria bom voltar, e que em certas horas eu vou estar tão ludibriada pelas festas e pessoas, que vou pensar “nossa, eu AMO a minha vida! UHU!”.

E ele vai estar vivendo experiências únicas, só dele, novas garotas, novas amigas, novos planos, planos diferentes dos que um dia fizemos.

brenda
Enviado por brenda em 22/12/2009
Código do texto: T1990167
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