Meia luz

Sob meia luz. Sempre gostei disso. Mas não de meias palavras, meios gestos, meio amor. Mas a meia luz! Ah! Era o deleite das insones madrugadas. O quarto um tanto obscuro, outro tanto clareado pela meia luz! Era poeticamente belo. Como uma cena de filme, onde tudo está tão perfeitamente desajustado, mas o ambiente ali, intacto, incólume, sai ileso dos pormenores e desajustes dos pensamentos e solidão das personagens. O ambiente está em outro patamar, acima, diga-se de passagem, de tudo o que se passa ‘por dentro’. Embora de certa forma reflita o ‘insigh’ das pessoas e suas mentes clareadas pela meia luz da sanidade. Ou pela meia luz da fé. Ou ainda pela meia luz do autoconhecimento. Tudo pela metade e nada inteiro. Projetos não terminados. Dizeres inacabados. Verdades incompletas. Ai de nós! Não há vocação mais dolorida que aquela semi-descoberta, meada pela dúvida e pela coragem. E no meio, o espaço tectônico que bate e rebate sob uma lâmpada fraca, raquítica e sufocada pelas trevas da meia luz. E eu desligo o abajur (ou a luminária) e deixo que o escuro tome conta de tudo. Melhor desistir e ter a certeza das trevas do que continuar iluminada pela imprevisível e assombrosa meia luz.

Andrea Sá
Enviado por Andrea Sá em 12/01/2010
Reeditado em 12/01/2010
Código do texto: T2024574