I miss her

Saudade. Saudade dói, maltrata, tortura. Saudade derruba, destrói; a mim, a você; ao negro e o branco, o velho e o jovem. A todos. Saudade às vezes cega, às vezes é ela que te faz enchergar aquele vlho ditado de que "só de dá valor depois que perde". Eu valorizei. Sempre. Eu juro. - mas hoje o meu coração não bombeia mais sangue, porque o que corre em minhas veias é saudade.

Saudade de acordar e acordá-la, pois, naturalmente, meu primeiro pensamento ao acordar é ela. Saudade de ouvir aquela voz preguiçosa ao telefone. Saudade de entrar no quarto dela nas pontas dos pés, deitar ao seu lado e acompanhar o seu respirar pesado enquanto alisava carinhosamente seus cabelos. Saudade de acordar com ela pulando sobre mim. Muita saudade.

Saudade de quando eu ligava pra ela do trabalho em qualquer hora, esquecia de todas as atividades e passava o tempo rindo de uma piada, reclamando das aulas, me declarando ou até mesmo quando era apenas para saber se ela estava bem.

Saudade de ir caminhando pela XV sorrindo feito idiota enquanto lembrava de tudo o que ela me falava e me encantava. Saudade de não prestar atenção em aula, trânsito, troco, filme, clima... por estar pensando nela e em como éramos felizes.

Saudade de sentir aquele frio na barriga de felicidade em todas as vezes que eu comprava a passagem de ida até ela. Saudade da apreensão das 10 horas de viagem. Saudade de encontrá-la me esperando com um sorriso no rosto.

Saudade de parar o tempo. Saudade dos pratos que fazia para mim e eu amava. Saudade do seu perfume, dos seus olhos, da sua pele, das suas palavras. Saudade de sentir aquele tipo de saudade que começava quando eu dizia "eu volto logo" e terminava quando eu a abraçava novamente. Saudade dos Eu te amo inesperados, mas mais saudade ainda de olhar nos olhos dela e entender tudo sem uma palavra sequer. Saudade das listas.

Saudade das festas e também dos momentos de "monotonia" ao lado dela. Saudade de quando eu esperava ela pegar no sono pra depois ir dormir. Saudade de pensar junto dela nos nomes dos nossos futuros filhos, saudade de imaginar as viagens que faríamos, e até mesmo de admitir que nada seria tão fácil e que teríamos muitas barreiras, mas sinto saudades também de quando ela me dizia que iríamos superar tudo. Saudade de quando ela me dizia que tudo ia ficar bem. Saudade das suas qualidades e também dos defeitos. Saudades dela como ela é.

Agora que não a tenho mais, fica tudo na memória, e eu a encontro nas músicas, nas fotos, nas paredes do meu quarto, nas paredes dos meus olhos, nas rua vazias, nos dias tristes e também nos felizes. Em todos os quarteirões ela passa por mim, nas palavras que eu leio, lá está ela, em cada uma das razões que posso ter para viver, ela está presente. Mas onde é que ela se meteu que não está mais atrás de mim no reflexo do espelho?

Não quero cortar meus pulsos e ver a saudade se esvair de dentro de mim, porque o que tenho é saudade, e essa saudade é dela.

William Telles
Enviado por William Telles em 16/01/2010
Código do texto: T2033192
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