Diálogo sobre as ‘DIFERENÇAS’

Silvia: Mulheres são mestres em dizer que homens são todos iguais.

Hilde: Ah! Como isso cansa a inteligência e é tão pobre e injusto com o ser que é único.

Silvia: Homens, que mulheres são incompreensíveis.

Hilde: Só os tolos que não buscaram sua feminilidade (cônscio de que não perderá com esse tempero a sua masculinidade) ou temem reconhecê-la para travar o diálogo fecundo da criação.

Silvia: Mas, iguais têm vieses incomparáveis.

Hilde: Aí reside o charme da descoberta...

Silvia: Ao passo que, incompreensível, quer dizer que algo foge à razão.

Hilde: Claro se você não se admite na sua complexidade... Foge a percepção.

Silvia: Pode ser a falta de sensibilidade.

Hilde: Penso que é preguiça intelectual.

Silvia: Ora, há homens sensíveis que mulheres não compreendem.

Hilde: Pode ser aquelas que foram ‘colonizadas’ pela doutrina machista

Silvia: E mulheres feitas em série, buscando amores de catálogo que só iguais produzem.

Hilde: Ah! Isso é muito triste porque é o modelo estampado do avesso do avesso que colou no estereótipo e defeca na modelagem das sacanagens hehehe!

Silvia: Basta ser tu mesma para ser diferente.

Hilde: E não é tão simples ser sofisticado na tua simplicidade?

Silvia: A saúde reside em respeitar, não quem tu pareces, mas quem tu és.

Hilde: Brilhante ensinamento que todos devem copiar porque é GENIAL!

Silvia: Apesar do que parece ser poesia ou essa infecção por máscaras?

Hilde: Não é tão bonito soltar o verbo vencendo suas próprias hipocrisias?

Silvia: Devia ser a única escolha!

Hilde: Se há um ‘óbvio ululante’ este é o que se deve respeitar.

Silvia: A maioria de nós - criaturas - é capaz de vínculos amorosos saudáveis.

Hilde: Ah! E quando isso ocorre é tão prazeroso e gostoso.

Silvia: Mas surta nos papéis.

Hilde: Claro! Nada é de graça. O amor às vezes é uma merda!

Silvia: Alguns homens lutam; outros assumem quem é.

Hilde: Alguns dão murro em ponta de faca... Outros se acovardam, mas penso que no fundo todos querem é mesmo a felicidade.

Silvia: Sangram por transformações e buscam a beleza no empoderamento.

Hilde: É! Se entendi bem essa busca insana ... A porra do poder, da vaidade, empobrece os ideais no curso da busca.

Silvia: Abandonando certas ambições, pagam caro! Pagam quanto valem.

Hilde: Penso que se entra num labirinto quanto se distorce o real objetivo da busca e daí pra sair é só pagando caro mesmo.

Silvia: Poucas mulheres aceitam um homem pelo que é.

Hilde: Está aí uma das verdades mais contundentes do teu texto. Coisa de gente sábia. Foste iluminada ao constatar isso porque, infelizmente, a mediocridade reina nas escolhas e nem vou descer a detalhes para não escachar com o gênero feminino que só vê 'àquilo' hehehe!

Silvia: O endereço do machismo é esse mesmo.

Hilde: É isso mesmo! Tá na braguilha ou no bíceps, ou no ‘tanquinho’ hehehe!

Silvia: Mulher deve ser aceita pelo que é, mesmo despersonalizada.

Hilde: É evidente que essa é a máxima predominante, mas, eu penso que há que se rever alguns conceitos até por que não se pode despersonalizar quem quer que seja. Até a mulher dita inculta guarda um ser maduro e astuto que foge a percepção do mais esperto.

Silvia: Homem deve ser o provedor, do contrário é intolerante, indecente e ilegal.

Hilde: Eu também creio nisso embora ao admitir isso passe recibo de ‘machão’ mas toda mulher quer e precisa de proteção e ao homem cabe dar-lhe isso. Desculpem o escorregão, mas não consigo pensar de forma diferente.

Silvia: Por isso, outros decantam paz e libido na provedoria infeliz; ou tornam-se eternos feridos, purulentos, buscando mulheres de plástico que não doam.

Hilde: Aí já são outros quinhentos... Provedor... Não só da grana... Mas também da proteção e do amor. Romantismo? Sei lá... Acho mais bonito se dar por inteiro se a mulher não for fútil e medíocre.

Silvia: Humanidade é busca entre seda e fúria.

Hilde: Sua frase mais forte e que merecerá de minha parte um poema...

Silvia: Amor sem seda é frio; sem fúria, é morno; sem humanidade, não é amor: é narcisismo.

Hilde: Puta que pariu isso é lindo demais... Também percebo o amor assim!

Silvia: Vale o mesmo para mulheres iguais e seus homens indolores.

Hilde: Puta que pariu duas vezes mais... Isso é mais lindo ainda. PARABENS!

Silvia: E a comédia segue. Criamos idealizações e, por comparação, criamos a infelicidade

Hilde: É verdade! E a felicidade reside na simplicidade... Por que não buscá-la por esse viés?

Silvia: A partir dela, o medo.

Hilde: Sim! Ele vem pelo toque a reboque!

Silvia: E, como a moral é a do medo, formatamos-a em leis, contratos, costumes, tratos, acordos implícitos ao senso comum.

Hilde: Pois é! Aí começa a bosta toda, as tais regras da insensatez camuflada dos valores sociais e morais que viram dogmas da merda institucionalizada. Cruz credo! Como fede!

Silvia: Eis o risco de sermos linchados por não correspondermos às idealizações.

Hilde: Pois é... O que fazer diante disso? Só gritando e escrevendo como você o fez aqui de forma magnífica.

Silvia: Infinita é a cólera subscrita aos contratos de amor.

Hilde: Será que essa cólera resiste ao próprio amor em essência quanto estampado nas mãos dadas passeando pelas calçadas?

Silvia: Cólera que dorme nos vincos das assinaturas,

uma vez que frutificamos novas equações hormonais a cada toque ou repulsa.

Hilde: Está aqui uma dica para uma reflexão mais profunda...

Silvia: Se a lunação modifica desejos como jurar algo para sempre?

Hilde: Esta é uma inquietude que nos deixa perplexo porque ocorre de fato.

Silvia: Se era uma jura feita no fervor míope dos vinte anos,

e que assumiu que o amor seria o mesmo na alegria e na doença,

por que temos que nos curar sozinhos e sem um sorriso?

Hilde: Ah! O amor...

Silvia: A cólera é óbvia.

Hilde: Por que o amor também não pode ser?

Silvia: O suor não tem memória.

Hilde: Mas guarda a sua história lá no seu íntimo...

Silvia: Rara é a compaixão.

Hilde: Mais raro ainda é o perdão.

Silvia: É por desilusão, esse enriquecimento torturante,

que cada fio de cabelo encanecido nos revela a impotência pela ira,

pois, perdermos - agora - as cláusulas meteóricas do amor

enterradas no solo do passado.

Hilde: Não creio nisso, sinceramente! Penso que há certo saudosismo dos tempos idos que não seguramos, mas que sabemos que estão lá para que busquemos e revitalizemos no incorrigível otimismo que se encontra na inocência serena escondida dentro de cada um de nós.

Silvia: Se não havia cláusula de compaixão,

eram encomendas de dor.

Hilde: Essa coisa da compaixão é produto lá do Calvário que ficou incrustado na cultura popular. O melhor é redenção ou ressurreição.

Silvia: Contrato algum que se faça necessário,

por ser contrato, prescinde da canalhice de obrigar a papéis,

torcer almas.

Hilde: Concordo! Alma alguma pode ser torcida mas pode ter torcida, não é vero?

Silvia: Assinou, esqueça o poeta.

Hilde: Pois não é que isso é a mais pura verdade?

Silvia: Eu mesma levei quase duas décadas para compreender:

os que exigiram contrato, exigiam garantias.

Hilde: O processo é mesmo lento e difícil. A gente anda meio que anestesiado pela vida e só com a maturidade de espírito começamos a ter relances de compreensão já dobrando o cabo da boa esperança. Talvez porque nossas paixões vão aos poucos se tornando brandas. Talvez porque a ‘carcaça’ já não cobre tanto e as antenas ficam mais espertas captando os sons da vida. Talvez... Confesso que não sei. Sei que ficamos mais perceptivos.

Silvia: Queriam os papéis assegurados, pelo menos quanto ao dinheiro.

Pois os demais tratos, sacrifícios e recíprocas, não vieram ao caso.

Hilde: Essa questão da ‘garantia’ quebra um pouco o sentido poético do romântico vôo. Parece mais mercantilismo de toma lá da cá com a doação visando lucro.

Silvia: Morremos engasgados com o que estava implícito para cada cultura. Não é? É.

Hilde: Sim! Não vejo cuidado apurado de buscar compreensões além do explícito, com preguiça talvez de garimpar mais fundo.

Silvia: Aos que chamam a isso prosperidade,

lembro que, sem amor, prosperidade é só um número.

Morremos de estatísticas, também. Não de amor.

Hilde: E morrer de amor é tão épico, tão bonito. Quero morrer assim... De amor!

Silvia: Aliás, se mamãe não disse nada sobre a mágica que une amor,

sexo e prosperidade, não tema.

Hilde: Mamãe não nos disse tantas coisas. Mas pode ter plantado sementes que só ao longo do tempo vemos alguma mudinha despontando e aflorando.

Silvia: A recusa em aprender é autodidática.

Hilde: Por vezes pode ser mecanismo de defesa para evitar o trabalho de investir no amor. É mais ‘fácil’ ir pelo consumo da mesmice.

Silvia: Minhas condolências às partes,

pois contratos de amor são apólices de seguro contra a felicidade.

Hilde: Definição perfeita dos arranjos para fechar as portas e janelas do coração e tentar fazer com que a razão comande. Ora por que não dar o leme ao coração? Afinal por mais piegas que pareça é ele quem comanda nossas emoções e os sentimentos mais nobres.

Silvia: O único lastro é amor,

entrega e dispensa cartório.

Hilde: Mais uma valiosa reflexão de quem entende do riscado. É só o amor mesmo o condutor que alojado no coração se entrega ao outro em comunhão.

Silvia: O resto é pose de quem nem sabe do que se envergonha.

Hilde: Então... Fruto da ignorância de quem se entregou a razão utilitarista das relações afetivas.

Silvia: Todo contrato supra-amoroso é um paradoxo terminal,

redigido pelo medo da perda ou pela posse.

Hilde: E mais cedo ou mais tarde os lança num precipício ou num buraco sem fundo.

Silvia: Ao fim, quem amava,

é capaz de chamar dor de álibi e negar que algo tenha sido sagrado.

Hilde: Perde-se assim o poder sublime e sutil da essência sagrada do amor.

Silvia: É capaz de trocar o lençol pelo feltro verde dos palpites.

Amar, amar mesmo, teve seu tempo.

Hilde: E como é triste esse estágio onde nos tornamos frios e calculistas... Céticos sem àquele sentimento bonito de ir descobrindo novas possibilidades.

Silvia: A mágica acabou.

Um desperdiçou sua vida pelo outro.

Simples assim.

Hilde: É exatamente assim que se dá a morte do amor envolto numa melancolia que torna a pintura antes colorida num cinza de sepulcro.

Silvia: Vamos às despesas que não estavam no texto?

Mas - eu preciso desse desabafo

- nem tudo que reluz no fim do túnel é gravidez excludente ou trem.

Hilde: Nesta parte fiquei assim meio esquizofrênico sem captar luz alguma dos teus dizeres. Houve certo ‘estranhamento’...

Silvia: Aliás, para todos esses casos em que porra nenhuma basta

(E este era o propósito original do contrato...).

Hilde: Ah! Começo a sair do estranhamento...

Silvia: A luz no fim do túnel era só uma breve insinuação dos diversos usos das velas.

Sopraram quando o romance tornou-se suspense.

Hilde: Hum! Apagou-se então a chama para ver o que dá no escurinho. Seria isso?

Silvia: E, daí, ficção.

Então, os primeiros azulejos do sonho começaram a cair.

Então, os poemas matinais e as flores na cabeceira passaram a valer nada.

Então, as vitórias foram desdenhadas e os esforços, pisoteados.

Então, soou como um gongo na alma : "Sacrificou-se porrrrque quishhhh!"

Hilde: E esses são os momentos mais dolorosos quando as cobranças vêm a toda hora abafando os momentos de glória dos dias exuberantes e das manhãs de sol, do rouxinol

Cantando em sua janela e o perfume das flores invadindo as suas narinas.

Silvia: Bem a calhar, Nelson Rodrigues: amor fugaz

"Todo amor é eterno. Se morre, não era amor".

O meu amor sangrou até virar fantasma.

O que sobrou do maior amor do mundo, eu comi sem sal.

Hilde: Mas eu sei que és fênix e o fará ressurgir as cinzas com nova feição sob a magia da tua afeição e na entrega já mais sofrida e não menos bela. É preciso que o sonho não morra...

Silvia: Sim, todo engasgo é eterno.

Hilde: Há que se desengasgar porque o ‘desengasgo’ também o é...

Silvia: Como a juventude em que insisto diante da velhacaria

de tanta gente infeliz que nos assolou.

Estava óbvio que restaria apenas o papel laminar que fora assinado.

Hilde: Há que se resgatar o que está além do papel assinado... Aquilo que nos move ao encontro da pureza das crianças que Gonzaguinha cantou com maestria.

Silvia: Guerreiros têm dignidade.

Melhor ter reféns.

Certamente, ao omitir socorro, isso estava decidido.

Hilde: Sim! No fundo os guerreiros incomodam porque nos mostram o caminho da luta. E poucos se desalojam de seus estados de conforto.

Silvia: Ao contrário do que preconizam as novelas

e as possíveis descomposturas legais,re sponsabilidade, fracasso ou sacrifíciosnão compreendidos são questões fáceis de resolver com algum afeto.

Hilde: Os afagos e aconchegos têm mesmo esse poder de nos ‘emburrecer’ pelos sentidos e nos por em estado de distração..e.

De alienação ou alheamento.

Silvia: Mas impossíveis pelo orgulho.

Hilde: Sempre cultuo um orgulho sadio que me possa manter em pé quando tudo ao redor já caiu...

Silvia: Na falta de afeto, o luto da rotina se encarrega dos amores.

Hilde: Aí também se perdem as surpresas deliciosas do amor...

Silvia: Querem costurar máscaras na cara, afirmando que o sangue é maquiagem e somos reduzidos a vitimas e vilões.

Hilde: Como se já não bastasse as próprias máscaras que já estão incrustadas na pele da face, ou nas entranhas do próprio caráter, não é mesmo.?

Silvia: Há quem prefira manter o orgulho em riste até a miséria

a somar amor para a prosperidade. A isso, chamamos separação.

Hilde: A isso chamo de suprema burrice. Esse é um orgulho tolo que precisa ser desalojado no pedestal onde se encontra...

Silvia: Gratidão aos céus por mais essas clarezas.

E, desculpe, às vezes, cansa ter tanto ombro.

Hilde: Muito obrigado Silvia por este teu texto tão rico de ensinamentos que achei por bem ir dialogando com ele para ver se apreendo um pouquinho da tua luz, da tua magistral clareza.

(Silvia Mendonça: Outubro de 2008 – Hildebrando Menezes: Janeiro de 2010) Autorizada a reprodução pela autora.

Navegando Amor
Enviado por Navegando Amor em 22/01/2010
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