Vejam ibope da luxuria!

O que há de profano no desejo? O mistério, a proibição, é território interdito na infância, visitado e desbravado na adolescência mas jamais totalmente conhecido. Nossa maior obsessão e nosso maior fracasso, o que nos proporciona mais prazer é o que nos permite usar as pessoas da forma mais vil. Simples notar que um texto erótico que traz o desejo à flor da pele dito com certo tom chulo, tem grande leitura. Pois nós realizamos o egoísta e sádico desejo de possuir e usar o outro.

Conseguimos até separar amor e desejo dentro de nosso ser, na verdade muitas vezes é difícil desejar com volúpia alguém a quem amamos, pois o desejo nos parece sujo demais, e talvez aquele outro que tanto no realiza não possa ser maculado por uma lascívia pura, a luxuria tem que ser guardada para as putas e vadias da rua, seu amor tem que ser protegido e amado. A mãe dos seus filhos não pode gostar de levar uns tapas pode? Não pode usar lingerie e adereços de uma sado masoquista, pois isto é coisa de mulher suja?

Antes que me venham falsos defensores da liberdade contemporânea, diga o que impede de se ter a ilusão bonita de casamento senão esta liberdade libertina que deixa os homens com medo de serem cornos se não satisfizerem estas mulheres cheias de desejo próprio. Antes um homem insatisfeito em casa era perdoado por buscar fora, mas a mulher, que hoje exige sua satisfação ainda é mal vista quando o faz, por isso é preferível manter relacionamentos, com pouco compromisso, mas que garantam algo certo sem os grilhões da exclusividade ou difamação moralista caso haja deslize... No qual a todos caiba o direito de buscar prazer. Vamos fingir que este tempo é mais interessante, já que filhos de produção independente são apenas realizações pessoais: “Queria tanto ter um filho”, que trazem ao mundo seres que já nascem em um ambiente onde casal e família é apenas uma representação caricatural em filmes. Ótimo, alguns sonharão com isto até serem desiludidos no amor, outro acharão que o normal é viver de prazeres momentâneos sem vínculos, e a frieza tomará o espaço onde ainda caberia algum tipo de cumplicidade e construção, o amor se finda quando ele não é mais cimento que une, mas ideal de plenitude...

E vamos chorar depois de filmes de amor, que sequer prometem o: “felizes para sempre”, e viveremos com um vazio dentro de nós onde cabe, com perfeição, o cotidiano familiar onde, apesar das diferenças e dificuldades, nos possibilita sentir que há algo neste mundo que nos faz querer existir por mais alguns anos. A sensação de dar frutos e estes se multiplicarem, de ver algo nosso em outro, de poder amar sem esperar nada em troca, e ver a soma de dois seres diferentes aparecer em um terceiro elemento, e você abraçar a pessoa que está ao seu lado: “Ele é igualzinho a você nisto” e isto soar tão bonito, e ter em resposta um sorriso e um carinho. Felizes talvez sejam aqueles que crêem nisto e encontram quem também creia. Feliz quem viu que em duas mãos entrelaçadas não pode existir apenas desejo, mas tem que existir sonhos em comum e vontade de apenas olhar o céu azul e poder respirar fundo. Feliz quem já tenha aprendido que não há no shopping uma loja sequer que venda alegria ou amor, apenas ilusões que duram alguns segundos embaladas com primor. Há beleza para encher os olhos mas não há simplicidade para encher o coração. Há apenas muita dor e o vazio da solidão entre as pessoas de uma boate e bar. Há apenas a fuga de uma solidão isolada, para uma solidão conjunta...

“O tempo todo

Estou tentando me defender

Digam o que disserem

O mal do século é a solidão

Cada um de nós imerso em sua própria

arrogância

Esperando por um pouco de afeição”

(Esperando por mim -Legião Urbana)

T Sophie
Enviado por T Sophie em 28/01/2010
Reeditado em 07/05/2011
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