PEQUENOS GESTOS QUE FAZEM A DIFERENÇA...

Deixar claro os sentimentos é algo imprescindível, ninguém é obrigado a prognosticar, quando o outro não se expressa... Há pessoas que mesmo quando promulgam seu sentir, ainda assim, são de difícil compreensão. Penso que gente é a coisa mais fantástica que existe neste mundo...
Gosto de observar e analisar situações e comportamentos, isto nos leva a conhecer as pessoas e também a nós mesmos... Apesar de não ser uma tarefa fácil, é extremamente gratificante e deixa lições de vida e experiências magníficas...
Existe uma infinidade de formas de expressão e creio que uma das mais enriquecedoras é a evidenciada através da maneira de agir... Muitos não conseguem alcançar a comunicação do corpo através das atitudes e gestos e também não dão o devido valor a este tipo de fala.
Convivemos diariamente com diferentes tipos de condutas e, muitas vezes, a comunicação é cheia de ruídos... As pessoas falam uma das outras de acordo com o que carregam no seu interior ou fatos externos que lhes deixaram marcas no imo, evidenciam no outro o aspecto que lhes incomoda em particular, deixam-se levar por falhas cometidas por aqueles e até, na maioria das vezes, por status social, profissional, porte físico, situação financeira... Não alcançam o subentendido... Costumo dizer que julgamos ao outro de acordo com o que carregamos no nosso coração... O julgamento pessoal, na verdade, não é conseqüência unicamente do que ocorre no interior ou exterior, mas a somatização de valores internos e externos, é um desempenho sistêmico e o que mais pesa no final, entendo, são os valores intrínsecos à cada indivíduo. Se falo é porque sinto, se sinto é porque aquela verdade está em mim e se carrego tal verdade ela me é inerente e não do outro... Infelizmente o que constantemente fazemos é projetar nosso interior no outro e, assim, materializar o que sentimos...
Bom, o fato é que, outro dia, estava eu trabalhando e neste tipo de ambiente existem muitos ruídos... E em mim havia alguns ruídos retinindo... Na verdade eu estava de sobreaviso... Como não dou importância a ecos, comecei a observar as atitudes e comportamentos da colega de turno, em destaque dentro de mim... Pude constatar que se tratava de uma pessoa com boa formação educacional e profissional, valores bem arraigados, boa índole, de aparência muito simples, bem articulada, bem sucedida e com uma personalidade marcante: decidida, esclarecida e autêntica, digamos, bem resolvida. Sabe o que quer para si e trabalha no sentido de alcançar seus objetivos. Enfim, uma pessoa de excelente caráter. Com defeitos? Sim vários... Com qualidades? Sim muitas... Mas bem diferente do que os outros a projetavam. Aqui ou acolá, um ou outro ruído se evidenciava constatando a projeção, porém dentro dos padrões normais de qualquer ser humano. Não carregava arrogância, altivez ou azedume... Como afirmavam os ecos.
O que mais chamou a atenção e fez toda a diferença para a elaboração do meu julgamento foi um pequeno gesto:
Conversávamos e, em determinado momento, externei sentir um pouco de dor de cabeça decorrente de uma noite mal dormida... Ela prontamente me perguntou:
- Tenho remédio tal, no carro, quer tomar um comprimido? Respondi:
- Oh, que bom, quero sim.
A moça pegou as chaves do carro na bolsa, dirigiu-se ao estacionamento, voltou com algumas cartelas de comprimidos nas mãos, adentrou à nossa sala, pegou um copo descartável, saiu em direção ao “gelágua” que fica no lado externo, pegou água, retornou à sala, abriu o envelope do remédio, depositou um comprimido em minha mão e entregou-me o copo com água...
Fiquei boquiaberta, não esperava tal atitude, que para tantos pode significar servidão, humilhação... No agir coletivo a atitude seria a pessoa me entregar o envelope de comprimidos e a fala do gesto seria: já trouxe o comprimido, agora se vire e procure os meios para ingeri-lo...
Poucas pessoas seriam capazes de um gesto de carinho tão pequeno, no entanto tão digno como o da colega em questão. Isto, para mim, significa amor ao próximo, humildade, companheirismo, coleguismo, entre tantos... E ela carrega sentimentos nobres assim dentro de si... O problema é que as pessoas não valorizam os pequenos gestos que fazem as grandes diferenças no nosso dia-a-dia...
Conhecer melhor uma pessoa não é pré-julgar ou criticar atitudes... É estar aberto, desarmado, pronto a compreender os pequenos gestos, as palavras vindas do coração, preocupar-se menos com os ruídos externos, “disse-que-disse”... É simplificar a maneira de ver o outro e a vida.
Por fim, compreendo que, para conhecer melhor ao próximo, é necessário ler as entrelinhas da sua individualidade, assim saberemos um pouco mais do seu interior (conhecer o todo é tarefa impossível) e as relações inter-pessoais se tornarão gratificantes e edificantes.


Ceiça Lima
Enviado por Ceiça Lima em 04/02/2010
Reeditado em 04/02/2010
Código do texto: T2069121
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