Mundo Real

Passamos boa parte da vida estudando formas e vendo exemplos do que é realmente viver...

Recebemos um conjunto quase infinito de instruções sobre como viver... Ouvimos experiências.

Desde muito cedo aprendemos a juntar letrinhas e compreender o sentido das palavras... Em um primeiro momento são simples, depois se tornam um desafio, passamos de linhas a redações, resenhas, monografias...

Aprendemos a chorar, a andar, a falar, a ler, ligar a TV, a usar o celular e computador, baixar mp3, programar o microondas para descongelar o nosso almoço...

Somos "adestrados", condicionados, preparados, programados...

E muitas vezes vamos nos acostumando com que as pessoas digam o que é melhor, o correto, o seguro, o adequado...

Precisamos de livro de auto-ajuda para aprender a lidar com relacionamentos... Muitos se submetem a seguir o que alguém que não nos conhece decida qual é o melhor rumo para se dar em uma relação...

Revistas fúteis trazem testes para indicar qual é o seu tipo ideal de par romântico e que tipo de amiga você é...

Novelas trazem modelos ideais e padronizados de felicidade...

A mídia também nos ensina o nosso modelo ideal de beleza, de peso, de cabelo bonito, de roupa da moda...

E onde fica o "eu", o "você", o "nós"?

Aprendemos a receber sentados em nossa mesa a teoria, as fórmulas que um dia foram descobertas por alguém que ousou um pouco mais...

A televisão desde a nossa infância é o nosso passa-tempo diário. Pais e mães cansados de uma vida muito corrida nos colocam sentados em frente a TV, para assistirmos desenhos animados, enquanto a vida se traduz em inocência.

Passamos boa parte da vida estudando formas e vendo exemplos do que é realmente viver...

No entanto nos condicionamos ao mundo quadrado de uma tela cada vez mais fina... O aparelho evolui e a nossa mente não...

Acostumamos-nos a viver a vida de mocinhas ou bandidos da novela “das oito"... Ou na tela do cinema, youtube ou qualquer coisa do tipo.

Pessoas reais vivem em mundos virtuais onde predomina a vida feliz, fácil, tranqüila e bem sucedida.

Estamos na era das máquinas humanas, elas vivem por nós... Elas têm sentimentos... A única coisa que temos a fazer é filmar, fotografar, conectar, clicar, enviar, copiar, plugar...

Tornamos-nos celebridades sem esforço maior... Os amigos não precisamos mais ver, afinal temos um contato diário, só que on-line... É fácil fofocar, é só termos o nosso pseudo-amigo adicionado em nossa rede de "amigos"...

Pouco a pouco estamos dando continuidade a uma humanidade que banaliza os sentimentos, as experiências, a gentileza, até mesmo as conquistas que se perdem pela monotonia da vida real...

Acredito que talvez seja necessário reformular a idéia do que realmente é necessário para ser feliz, do que realmente é importante fazer em um dado momento. Afinal, as máscaras caem, e até mesmo tudo aquilo que está rotulado não permanece por muito tempo dentro do prazo de validade.

A única coisa que não se perde com o tempo são as coisas que cativamos quando mesmo que por segundos conseguimos viver à nossa maneira, sem rótulos, dicas, receitas, conselhos, e experiências de um gosto amargo que muitas vezes nem provamos e que nunca vamos provar, porque podem existir várias visões de uma mesma obra de arte.

Quero conviver com pessoas reais, com pessoas que não criticam as outras somente porque elas choram ou se ferem, ou que se apaixonam e acreditam em bons sentimentos e que as coisas podem dar certo ao invés de supor que tudo sempre vá terminar ruim ou inadequada...

Precisamos atualizar também as nossas mentes.

Aline Medeiros
Enviado por Aline Medeiros em 16/02/2010
Reeditado em 17/02/2010
Código do texto: T2090604
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.