Eremita

Minha estrada sigo sem saber, o que fazer são só detalhes que relevo, vou brincando e fazendo arte, a vida é uma aventura cercada de mistérios, nunca sabemos ao certo quais são as regras, então, delimitar certo e errado é uma grande bobagem, criada por pessoas prepotentes que não aceitam a verdade, nossa absoluta ignorância neste plano terreno; nada sabemos, nada controlamos, quiças nada somos...

Quando me perguntam se tenho medo, respondo que não tenho, não querendo me gabar ou me declarando corajoso, simplesmente não tenho medo porque não penso nele, me aquieto, afinal, creio que ele se alimente de nossos pensamentos, e como costumo agir sem pensar, de modo impulsivo, acho que ele tem me esquecido, talvez me abandonado para não morrer de fome.

Faço meu caminho, ou melhor, não faço nada, é o caminho que me faz, desfaz, refaz. Sigo apenas adiante, as vezes tropeço em uma pedra e caio, me levanto e vou andando. Sinceramente, não acredito que xingar a pedra, a mãe dela ou a Deus vá resolver alguma

coisa. Me abalar com uma pequena queda é como ignorar, desdenhar de minha força interior, por isso, deixo a pedra para trás e sigo em frente.

Vou vivendo os dias como se fossem vidas, em cada uma delas podemos ser diferentes, melhores, maiores. Quando nascemos, começamos uma contagem regressiva para a morte física, não há como fugir, desta lei ninguém escapa: rico, pobre; homem, mulher; branco, negro, amarelo; hetero, homo, bi; nazista, socialista, democrata; bom ou mal; santo ou devasso. Todos tem o mesmo

fim.

Nesta vida de incertezas, nada podemos pressupor, ficamos sempre no campo do "achismo", o que há do outro lado, ninguém até hoje voltou para contar, ou se voltou, não reconheceu firma. De duas, mil, ou não existe nada do outro lado, apenas o fim, frio e resoluto; ou existe algo tão maravilhoso que os falecidos estejam se deliciando tanto que até tenham esquecido de nós; quem sabe Deus tenha determinado silêncio, nada de fofocar para nós o que tem lá, regra essa não válida para nós, salvem as linguas; ou quiças a coisa é tão feia do outro lado, que os mortos estejam nos poupando se sofrer por antecipação, não revelando nada. Ainda outras mil teorias podem incitar a imaginação humana. Para o bem da sanidade, é melhor parar de matutar, eu já parei faz tempo, seguir é a melhor escolha e assim eu vou, não quero fundir meu tico e teco.

Sabe, neste anos perambulando por aí, osaervando mais, falando menos, venho desaprendendo muita coisa, aprendendo um tanto

mais. Acho que tenho vocação para andar, meus pés no início eram inseguros, relutantes, acomodados, pareciam "pés-de-moça", não que isso seja um mal, adoro os pés delas, mas disso isso no sentido de que eram muito sensíveis, qualquer pedrinha lhes machucavam e eles iam correndo pedir ajuda as sandálias, sapatos, botas, tênis, ou qualquer outro calçado que pudessem protege-los. No começo tive que ser duro com eles, joguei fora todos os calçados, só andava descalço, vocês não imaginam que choradeira era; no frio, no calor, nas pedras, na chuva, eles imploravam, mais fui firme, bem mais que as

geléias. Hoje eles me agradecem, nem querem mais saber de calçados, estão danados de fortes, adoram andar, acho que fazemos um belo trio; eu e meu par de pés calejados.

Bom, vou finalizando esse texto por aqui, sem milongas quero deixar o meu recado para quem ainda não entendeu, jogue seus "calçados"no lixo, eles só atrapalham você, lhe trazem uma falsa sensação de proteção, mas lhe tornam fraco. Quando não temos "nada", se é que me entendem, é quando temos tudo na vida, por isso vamos viver os momentos sem "neuras", buscando sempre o que faz bem a alma, porque a carne, dia ou outro será um prato cheio para as bactérias, que não tenho dúvidas, estão ansiosas por nós. Andar faz bem, o que não faz bem é ficar aí sentado, vendo a vida passar...