Desabafo

Eu não tinha consciência do quanto era fraco. Meus castelos de areia desmoronaram-se todos.

Eu, que cheguei no mundo cheio de gás, pau pra toda obra, cantarolando, fazendo propaganda dentro do ônibus, ao lado de minha mãe, nervosíssima com minha performance, claro, mas cheia de orgulho: "meu filho vai ser um grande homem".

Aqui estou eu, prestes a imaginar o maior dos sacrilégios: dar cabo à minha própria vida, deprimido por ser eu mesmo, e não ter dado ouvido aos outros (que ironia!), sonhando com o sonho mais bonito e mais inatingível que se pode sonhar, e descobrindo cada vez mais um pesadelo daqueles mais horrendos.

Perdi meus amigos, minha fé, minha esperança no futuro, completamente perdido, sem entender os passos ditados por meu destino, que é mudo.

Aqui estou eu, no limiar da minha lucidez, tentando talvez tornar célebre este momento, tão meu, e ao mesmo tempo, tão nada.

Não posso me dar ao luxo de dizer que não sou amado, isso seria uma incoerência das grandes. Gente que se importa comigo no momento, de verdade? Hum... deixe-me ver... Seis pessoas. Nada mal não é mesmo? Seis pessoas são seis planetas. Mas todos distantes do meu sol, recebem muito pouco da minha luz, no momento.

Penso que se o infame ato realmente se concretizar, será minha ruína e minha glória: ninguém terá acesso às canções que só existem na minha cabeça, e às minhas poesias nunca antes publicadas. Essa seria minha vingança. Opa, o sono veio. Bem, deixa eu dormir.

Quem sabe não acordo num mundo melhor?

João Macambyra
Enviado por João Macambyra em 04/04/2010
Código do texto: T2176548
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