Sente-me a nudez

Dois...

Apenas dois.

Dois seres...

Dois objetos patéticos.

Cursos paralelos

Frente a frente...

...Sempre...

...A se olharem...

Pensar talvez:

“Paralelos que se encontram no infinito...”

No entanto sós por enquanto.

Eternamente dois apenas.

Pablo Neruda

Olhando para as formas, sentindo o cheiro, imaginando o gosto, nus, se contemplando em total silêncio. Eu, mulher fora dos padrões, você, não perfeito, mas incrivelmente desejável em seus nuances. Observo-te a pele macia, arrepio cada centímetro da pele, seus olhos acariciam minhas formas, e meu corpo por completo almeja o seu.

Há ainda a distância, mesmo quando nos fundimos na entrega do corpo, pois nossas almas ainda temem a desilusão de se perder no outro e ali ficar para sempre perdida.

Quando te sinto, tento sentir muito além, suas mãos não são apenas dedos de carne e osso, são a extensão de seu ser que ali me ama, e desejo que vá alem do mero formato de mim; mas que sinta o pulsar de meu âmago que te ama e quer te amar a ponto de não ter mais medo de você ir embora. E que se for, possa seguir com a certeza de que amei e de que fui amada com o que sou, do melhor modo que foi possível aos dois. Viver se poupando da vida é morrer a doses homeopáticas.

O que me apavora em nossa nudez, é ainda sentir que nem ali deixamos nossas armaduras, que ali, aquela entrega é parcial e o corpo se basta em extravasar meros desejos, e que de intimidade pouco resta já que não interessa mostrar-se pois vulnerabilidade tanto nos apavora. E em dias de solidão amaldiçoaremos a vida, que ignoramos quando nos permitiu sentir, pois estávamos ocupados demais apenas sobrevivendo...

Quando nos lembrarmos dos beijos e dos abraços, dos sorrisos e dos olhos que nos observavam de longe, quando nos dermos conta que era no silêncio sincero, de quando não precisávamos ocupar com palavras nossa vontade de só estar ali, juntos, sentiremos os olhos marejados de lágrimas, pois nos daremos conta que foi ali que nos amamos.

A mulher que sou somente me faz sentido ali, diante de ti, o único homem a quem me interessa agradar os olhos e os sentidos. Eu não preciso ter a perfeição na forma se puder ver em seus olhos mais que mero desejo, mas que veja genuína admiração por tudo o que vê em mim. Pois a mim, estes instantes são a fuga a um jardim secreto, onde eu possa repousa em seus braços, e te ver, apenas te ver enquanto ser, o tamanho exato de tudo o que me consumia a vontade. Os seus olhos me são sempre tão claros, eu sei o que pensa e sente pelo brilho deles e tom de sua voz, as vezes você me mata quando simplesmente diz através deles que não sou bem o que você quer, ou que te canso em minha imperfeição. Quem dera entendesse que te amo apenas com tudo o que sou, o que não é muito e talvez sequer o suficiente, mas que te escolho todos os dias, apesar da vontade de me desvencilhar de seus braços que tanto me fazem sofrer quanto sorrir.

Como conviver com “um demônio que ruge e um deus que chora” dentro de si, estando inteiramente só para apenas chorar de medo, ou apenas se calar de puro pavor diante de seu próprio reflexo no espelho, como lidar com a consciência plena de que na mesma medida que sou capaz de ser boa posso ser cruel, me sentir perdida por aí, servindo de apoio para alguns, de tropeço para outros e ainda assim desejar viver?

“Enquanto houver você do outro lado

Aqui do outro eu consigo me orientar

A cena repete a cena se inverte

Enchendo a minh'alma d'aquilo que outrora eu deixei de acreditar

Tua palavra, tua história

Tua verdade fazendo escola

E tua ausência fazendo silêncio em todo lugar

Metade de mim

Agora é assim

De um lado a poesia, o verbo, a saudade

Do outro a luta, a força e a coragem pra chegar no fim

E o fim é belo incerto... depende de como você vê

O novo, o credo, a fé que você deposita em você e só

Só enquanto eu respirar

Vou me lembrar de você

Só enquanto eu respirar – O anjo mais Velho ”

T Sophie
Enviado por T Sophie em 26/04/2010
Reeditado em 26/04/2010
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