Rio ontem e hoje
MEU PAI
Meu pai foi
ao Rio se tratar de
um câncer (que
o mataria) mas
perdeu os óculos
na viagem
quando lhe levei
os óculos novos
comprados na Ótica
Fluminense ele
examinou o estojo com
o nome da loja dobrou
a nota de compra guardou-a
no bolso e falou:
quero ver
agora qual é o
sacana que vai dizer
que eu nunca estive
no Rio de Janeiro.
Ferreira Gullar
Esse é o Rio de Janeiro do final do século passado, um Rio de Janeiro desejado pelas musicas e poesias de Tom Jobim e Vinicius de Moraes e tantos outros cantores e poetas brasileiros que tentavam desabrochar de um período repressivo sem muitas liberdades de expressão. O Rio de Janeiro mencionado pelo pai de Ferreira Gullar no poema é aquele velho Rio da garota de Ipanema, do corcovado, Leblon, Copacabana e da torcida do flamengo era a cidade mais invejada do Brasil pelo titulo de cidade maravilhosa. Esse o Rio de Janeiro de ontem, belo e desejado por todos.
EIS O RIO DE JANEIRO DE HOJE:
Vai passando um casal de turistas pelo calçadão de Copacabana e de súbito ouve-se: Pego ladrão, pego ladrão...
Sempre que a um tiroteio em algumas das 650 favelas existentes no Rio de Janeiro é inevitável não haver pelo menos uma família desesperada chorando por uma bala perdida que encerra por definitivo uma vida alheia.
As ruas do Rio já não são mais andáveis, metais poluem o ar e matam.
Assim como já não é mais seguro andar em ônibus eles pegam fogo e viram cinzas, eles são os principais alvos dos terroristas brasileiros que lutam por uma logística de distribuição de drogas e armas sem interferências.
Deixou de ser a cidade maravilhosa e agora tem outro nome Cidade da chuva metálica sendo dominada por outro sistema, mais corrupto, mis inseguro e indecente.
Garanto que se estivesse vivo o pai de Ferreira Gullar não se preocuparia em guardar uma simples nota fiscal estando no Rio de Janeiro de hoje deteriorado violentamente.
Jânio Lima, 13/03/2010