Ninho Vazio
A casa de ontem, o calor falando nos cantos, esperando encontrar resposta para a saudade que insiste em voar.
Distante do chão, o ninho vai seguro, imprimindo a história de quem viveu ali, nasceu e morreu, aprendendo lições da vida e da morte, da queda e da superação. Nos galhos, suspenso no ar, mesmo vazio ainda é um símbolo incontestável de um pequeno universo onde houve incríveis transformações.
Precede o progenitor, ovos, calor e vida. Sol, chuva e vento forte. Predadores, ronda a morte seca entre as sombras, no meio das folhas. Furtiva, quer as veias gritando de dor, alimentar-se da agonia alheia. A vida sobrevive nos intervalos, na espera.
Vazio, o ninho abriga o sopro, a ânsia de ser novamente. Cheio de histórias retorcidas, nas curvas impregnadas, será sempre o ponto de partida de qualquer amor, cúmplice no tempo e no espaço. Esse vão, feito de turbulentas manifestações de silêncio, será fecundo.
Antes do ninho, houve uma semente. Da chuva, terra molhada, broto, folhas e flores. O vento quis dar-lhe novas feições, torcendo braços e pernas. Estendeu-se a ponta dos dedos, na tempestade tocou o chão; o céu querendo ver o horizonte, debaixo do manto azul. Ainda hoje paira a marca de sua sombra sobre o chão.
A mesma cena pode ser vista: um ninho vazio. Antes do ninho, houve a semente, agora permanece o coração, e uma vontade incontrolável de chorar qualquer lágrima que me leve de volta àquele calor.