Um samba que valeu a minha vida

Um samba que valeu a minha vida.

Se é certo, se estou perto, ou já esgotei de mim.

Emprego o meu sentido sem reagir, sem descansar.

Pois esta cadeia que controla minha dor

É a mesma teia que enlaça o meu viver.

Eu quero estar presente sem estar na contração

Que dentro de um poema se inspire a solução.

Há tempos que escrevo,

Pouca coisa que serviu.

Penso que me esqueço

Do que vi e não peguei.

Do que foi e não voltou

E o que tenho agora sim

Posso estar neste lugar.

Pra cantar neste país

Este samba que eu fiz...

O pranto que cantei não voltou

Porque de malícia não quero mais

Sou vivo, um presente constante

Brasileiro obstante

Mas minha terra é dentro de mim.

Servindo a coroa deste estado

Eu me vi enclausurado

Por parecer fácil me esconder.

Mentiras, que o corpo não aceitou...

Este samba então criou,

Para dançar como se dança

Na verdadeira lembrança,

Do nosso sonho de país.

De cantar samba como é realidade

Não agrida o samba com suas futilidades

Mesmo que pareça um tema de verdade

Esta mentira não esgota o meu cantar.

Porque eu vi Cartola junto com seu pai

Cantando samba como era sua vida

E Adoniran me lembra da maloca querida.

Talvez monarco que pudesse explicar

O que Carlos Cachaça já cantava outrora.

Que alvorada quando volta é tão bonita

Que a imagem não saiu da minha lembrança

E que o samba me lembrou a minha vida.