A BARRIGA À MOSTRA

Disse alguém que os afeminados gostam tanto de mulher que quereriam imitá-las, por isto o travestir-se de mulher. Verdade ou mentira, é certo que o ponto fraco do homem é a mulher, especialmente quando jovem, esbelta e bonita, estereótipo da mulher ideal. Por ela ele deixa tudo, faz tudo, muda seu destino e, muitas vezes, os princípios e valores. Por elas ele luta e vence, ao mesmo tempo que se deixa dominar pelo desânimo, sucumbindo a mais negra insegurança, buscando auto afirmar-se tendo muitas.

Com a mulher desejada, um bom carro, uma casa, o controle remoto, uma calça jeans, uma camiseta e um tênis barato homens há capazes de sentirem-se possuidores de shoppings; salvo os insatisfeitos, que buscam novos desafios amorosos para excitarem-se; ou os que não saciam a sede de poder, por isto a ganância corrente. Todavia, para uma mulher, parece não existir limite; parece não ser possível sentir-se satisfeita, mesmo que tenha o shopping inteiro, possua todos os adereços que as outras possuem, ou seja a mais linda, cativante e desejada; seguindo ainda insegura, vivendo eterna insatisfação, sujeitando-se, inclusive, a situações constrangedoras em bem do sentir-se.

Em busca da satisfação, a mulher bradou por liberdade e temos aí seu incontestável efeito. Mas tornou-se livre? É feliz?

Alguém a queixar-se por não sentir-se bonita é feliz? Se sendo linda, a pessoa queixa-se que não tem o que vestir, é feliz? Se com o peso ideal para a sua altura, ela tem obsessão por balança, é feliz? Alguém que com cabelos lisos vive a lamentar por não tê-los encaracolados, é feliz? Quem com encaracolados vive na chapinha, é feliz?

De que vale então o dinheiro, montes de sapatos, roupas, balaios de maquiagem, chapinhas, alisantes, permanentes, o cara mais desejado do círculo de amigas, se ainda assim não se é feliz, pois se vive a perseguir algo que não se sabe o quê é, que pode estar na Renner ou na Marisa? Quem é livre então? Onde está a felicidade?

Por vezes o ser mais desejado do planeta é infeliz por sua incapacidade em satisfazer-se. É triste ver a independência da mulher resultar, muitas vezes, em sua sujeição a cadeias no pescoço, quadris, braços e pernas com o próprio consentimento, pois lhe prometem felicidade.

Da forma como usam a liberdade, seguidamente as pessoas sujeitam-se a escravidão do capitalismo, que não tem identidade, nem piedade, tampouco é mãe, pai, marido ou esposa, mas domina e humilha com tirania excessiva e dobrada crueldade, fazendo que sufoquem na corrida insana do ter para se sentir. As mulheres têm sido suas maiores vítimas por sua incapacidade em satisfazer-se. Na corrida da vaidade, a voracidade dos sugadores de vidas as têm possuído, fazendo-as objeto de desejo, não só dos homens, mas delas mesmas, explorando a insegurança e insatisfação de cada uma, mostrando-lhes nos meios de comunicação um rotativo e intermitente desfile de modelos de como gostariam de ser para serem felizes, fazendo que vivam desabalada perseguição à segurança que poderá resultar em satisfação, mas que jamais alcançarão, porque eles vão renovar nelas essa insegurança, provocadando-a com uma nova moda que prometerá maior eficácia no atrair os motivos de felicidade, que elas mesmas não sabem o que são.

E, por não saber, muitas mulheres menos instruídas têm andado com a cintura de fora em pleno inverno do Sul, suportando rígido frio, só para mostrar a barriga, que, às vezes, é mesmo repelente. Elas dirão que não sentem frio, mas todos sabemos que o frio na cintura resfria o corpo, provocando pontadas que costumam ser fatais. Também dirão que não é para atrair homens, o que é verdade e mentira, pois sentir-se desejada fisicamente faz parte da afirmação da maioria das mulheres e ver-se mais atraente que as outras (ou menos inferior) é a maior de todas as formas como muitas delas consolidam essa afirmação.

É triste ver um ser de magnífica inteligência reduzindo seus valores a mera aparência, ainda mais a de objeto de mercado de moda e badulaques. Mais feliz seria se investisse na qualidade interior, que cabe numa aparência intelectual, enfatizando o poder e autoridade que realmente possui, que desafia os homens, pois desperta neles admiração e respeito, aguça seus valores e sentidos, faz que desejem muito mais, mas com senso de igualdade e ternura.

Não existe nada tão seguro quanto uma satisfação sólida, como a segurança de saber que se agrada alguém em todos os sentidos, como se agrada a si mesma, pois somente o estar bem consigo mesmo produz satisfação, que produz segurança, que produz auto estima, que dissipa o medo, o ciúme e a inveja, resultando em felicidade própria, que encantará, cativará e prenderá tudo o que houver de bom à volta.

Wilson Amaral

Wilson do Amaral Escritor
Enviado por Wilson do Amaral Escritor em 28/08/2006
Reeditado em 19/09/2006
Código do texto: T227497