NOVE FACES DA SAUDADE

- Tomaste de mim ou melhor, contaminaste, até mesmo a saudade que me caberia do outro, daquele meu companheiro e cúmplice ao longo de 18 anos.

- O acesso à tua saudade de mim, Amigo, sempre me foi vedado, como sempre me foram vedados os acessos às minhas múltiplas presenças em ti, nos eus que te compõem.

- O outro... aquele companheiro e cúmplice, como povoa a saudade que, nele, porventura, lhe tenha ficado de mim?

- Vi, Amigo, as mulheres da tua vida me cercarem, cada qual com suas, delas, próprias saudades de ti, saudades que me sufocam, saudades que me fazem arder de piedade por nós, tu e eu; por elas, estas cada uma das tuas mulheres.

- O outro e tu... faces, quem sabe, do mesmo Mistério... faces do mesmo Segredo... face da minha eterna Saudade de mim.

- Às vezes, chego mesmo a crer que tu e o outro sejam, em verdade, o Mesmo, a mesma alma dividida, em dois corpos, almas carnalmente antípodas e complementares, sem que o saibam, sem que possam sabê-lo, como eu não o posso; almas povoadas por múltiplas saudades, também pela Saudade de Deus, Tal Saudade expressa, sempre, por palavras e por silêncios de antagônicas ortodoxias.

A mim, que vivi 18 anos dividida em duas, para pertencer-vos ( e ainda deste modo continuo a viver, neste meu - ser-sozinha), em talvez Esperança Obscura de, ainda, em Algum Tempo, vos ver reunidos na Unidade Perdida (?), resto-me apenas nesta Saudade sem face, de incompreensível; sem face, de irremediável.

Tento acercar-me da Saudade que carregas de teus filhos partidos antes de ti, companheiro e cúmplice meu por 18 anos. Tento acercar-me, em vão, da Saudade que te ficou como Pertence neste mundo.

Minha mãe, minha mãe! Perdoa-me pela Saudade de Tudo, que vejo em teus olhos, Saudade que jamais, jamais me será possível povoar apenas com minha presença, mãe.

Zuleika dos Reis, na manhã de 24 de maio de 2010, na capital de São Paulo, Brasil.