A bola de futebol

Futebol

Wilson Correia

“Um dia, antes do derradeiro apito, ela (a bola) há de morrer, com um gol, no fundo do meu coração” (Armando Nogueira).

De onde nasce a bola, alma do futebol?

Mãos vindas do coração e que rompem a realidade dura criam a bola.

Elas fazem o lúdico alargar as possibilidades da vida e se fazem fonte de onde a bola nasce.

Nascida, ela energiza. Traz a ilusão da felicidade ao nível mesmo da vida concreta, dando-lhe uma razão de ser.

Por que os pés tocam a bola, alma do futebol?

Pés estendidos do coração tocam a bola. Sísifos condenados a rolarem o peso das segundas-feiras, e das feiras longe das cestas, na forma de bola e chute.

Necessitamos divisar ao menos o respiro do suor, esse que banha o corpo porque a alma precisa se sentir lavada – sobretudo no grito de gol – momento bendito entre todos que apaixonados podem saborear.

Sim. Não é apenas no coração do jornalista entregue ao futebol que a bola pode viver.

A pátria da bola é cada coração brasileiro, já tinto de sangue-verde e ouro-azul e meninice sem fim.

Na tabelinha entre a sístole e a diástole a bola não parasita o ser, mas o dinamiza em intensa troca de passes e por meio do lúdico feliz.

Talvez seja essa alegria toda que faz o amigo dizer que “De mulher a gente larga, desfaz o casamento e desavença a relação... só não faz isso com o time do coração. Ao time somos realmente fiéis”. E ele completa: “Até religião, ‘meirmão’, a gente deixa pra lá... Já viu um ex-flamenguista?”.

“Não, nunca vi”, respondo, vencido. O futebol seqüestra e não liberta nunca...

O que é o jogo de futebol? Não sendo guerra, o futebol é dança. Mas... quantos dançam no baile comandado pela bola bailarina?

Todos quantos tenham mãos e pés; todos quantos tenham uma alma no mundo em forma de corpo, todos quantos tenham um coração no centro dessa alma, tal qual a um colo acolhedor de uma bola indiferente à indiferença... esses dançam na dança que o jogo de futebol realiza.

E se engana aquele que pensa que esse show da fubebolística bola ocorre no gramado.

Não! Nunca! Jamais!

Tudo isso, esse lapso de paraíso na Terra, acontece mesmo é lá onde o Armando Nogueira anteviu a morte da bola, porque somente lá, no coração brasileiro, é que ela pode realmente viver.

Mas... como bola não morre, desconfio de tudo isso: é cada um de nós que precisa de uma bola dançante no coração para esticar a vida fina e evitar toda essa imensa pressa de morrer...