Sem tempo de ter tempo

Nas frações de tempo que passam os dias, podemos sentir que estamos a cada dia, cada vez mais sós. Vivemos rodeados de

pessoas que se dizem amigos (alguns de fato são), de parentes inúmeros, de pessoas estranhas, que conhecemos e deixamos de conhecer no breve momento de um piscar de olhos. Atualmente, um jovem da sociedade moderna conhece mais gente em uma hora do que possivelmente seu bisavô conheceu em quarenta ou cinqüenta anos de vida. Sempre estamos sedentos de conhecer gente nova, pois a novidade é excitante, mas nos esquecemos de conhecer melhor quem é aquele amigo que almoça do seu lado todo dia no refeitório da empresa, ou o pior de tudo, aquela pessoa com quem dividimos os nossos maiores segredos, ou ainda, com quem dividimos a mesma cama ou casa. O tempo passa tão rápido e somos mestres em desperdiçá-lo... Começamos o dia correndo, paramos no meio do dia correndo, vamos dormir correndo, passamos as férias correndo, querendo encaixar todo o planejado de um ano em um mês, que no fim não serve de descanso, acaba nos deixando mais cansados. Embora a sociedade atual dite esse ritmo ocidental ultramoderno destruidor de vidas e de artérias coronárias, podemos tentar sim fugir desse corre-corre desenfreado, pois se continuarmos assim, aumentando o nível de velocidade de vida a cada geração, chegará ao ponto de nunca terminar uma tarefa, pois o tempo será curto demais para pensar. Está bem, posso estar exagerando em dizer que chegaremos à velocidade da vida comparável com a do pensamento, mas mesmo assim continuo alarmando quem acha que esse estilo de vida é algo normal e natural em uma sociedade civilizada, política e socialmente atuante. De fato, isso nunca foi normal. Reduzimos a hora do almoço em fast-foods, pois precisamos voltar ao trabalho para adiantar o serviço que antes era de três dias, hoje se encaixa em um somente.

Na busca de tempo, nos matamos cada vez mais em horas extras, com a singela desculpa de contas demasiadas a pagar, e achamos assim que estamos vivendo dignamente, honrando com os nossos compromissos, e sendo acima de tudo, felizes. Felizes!!! Isso é felicidade? Passar dias e anos correndo, até o momento de nos darmos conta que o tempo passou, nós ficamos mais velhos, com menos energia, com menos vida, e o pior de tudo, a quantidade de trabalho continua aumentando e o mercado exige cada vez mais de nós. Exige que sejamos qualificados e profissionalizados em tempo recorde. Chegará o tempo em que seremos fecundados e após nascermos, programarão em nosso cérebro tudo o que devemos saber sobre a nossa futura profissão previamente escolhida pelos nossos pais sem o nosso consenso.

Enfim, desculpe a viagem, mas por ainda ter um pouco de tempo no fim de um dia corrido, narrei este louco desabafo de uma pessoa que não agüenta mais o tempo que corre e ninguém o vê passando. Só peço uma coisa aos caros cidadãos “metropuritanos”: observe ao menos uma vez o tempo passar e procure aproveitar os pequenos e raros espaços de tempo para viver a vida com felicidade.

Rilan Ancelesti Orn Geacco
Enviado por Rilan Ancelesti Orn Geacco em 14/07/2010
Código do texto: T2376976
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